10/10/2023
O título acima, como podemos melhor observar, está entre aspas e com uma exclamação! Significa ser uma frase de alguém, dita num tom diferente do normal. É título, também, de um livro – exatamente assim, com aspas e exclamação – de 2014, há quase 10 anos! O autor, Pe. Alexandre Awi Mello, atualmente o Superior Geral do Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt, na época da obra era professor de Mariologia e um “amante de Maria”, como se definiu no livro. Mas a frase não é dele.
Estamos em outubro, mês das missões na Igreja, oportunidade para refletir, este ano, o tema: “Ide! Da Igreja local aos confins do mundo”, e o lema: “Corações ardentes, pés a caminho”. Outubro também nos faz recordar São Francisco de Assis (dia 4) e, com ele, a nossa relação com os animais, a natureza, a ecologia, o humano. Outubro ainda nos presenteia com o Dia de Nossa Senhora do Rosário (7) e, por isso, o mês inteiro é considerado o “Mês do Rosário”. E, claro, no dia 12 deste mês lembramos das crianças e de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Poderíamos, ainda, mencionar o testemunho de nossos idosos (dia 1º), o importante Dia do Nascituro (8), a vocação dos professores (dia 15) e dos médicos (dia 18), o Dia Nacional do Livro (29).
Dentro dessa riqueza de celebrações e memórias queremos destacar Aparecida, que, de certa forma, reúne todas as demais lembranças. Quem já fez a experiência de estar no Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida certamente sentiu estar na “casa da mãe”. É o local onde crianças, jovens, adultos e idosos, local onde famílias e comunidades se dirigem para buscar ajuda, consolo, misericórdia, amor, perdão. E também agradecer. Na casa da mãe nos sentimos em nossa própria casa.
Pe. Alexandre, o autor do livro que dá título a este artigo, foi um dos secretários da comissão de redação do Documento de Aparecida, ajudando no texto conclusivo da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, evento realizado em Aparecida (SP), em maio de 2007. Algum tempo depois, em julho de 2013, foi um dos secretários na Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro (JMJ-RJ). No primeiro evento conheceu e trabalhou com o Cardeal Bergoglio, então presidente da Comissão de Redação de Aparecida; no segundo, reviu o antigo Arcebispo de Buenos Aires e, por primeira vez, cumprimentou-o como Papa Francisco. “Um homem com profundo amor a Maria, como milhões de outros católicos espalhados pelo mundo, mas que, por esses caminhos de Deus, chegou a ser Papa”, afirmou em seu livro (p. 19). “Ela é minha mãe!” apresenta o resultado de uma entrevista do autor ao Papa, sobre Maria, realizada no dia 26 de dezembro de 2013, alguns meses após a JMJ-RJ. Mais de duas horas de diálogo transcorridos, estando o entrevistador já satisfeito com as muitas respostas, revelações e curiosidades colhidas, eis que o entrevistado se transforma em entrevistador ao perguntar ao Pe. Alexandre se não teria mais alguma pergunta a fazer. O padre pensou em não perder a oportunidade e fez a sua última indagação, propondo que a resposta fosse naquele formato de respostas curtas e rápidas: “Quem é Nossa Senhora para o Senhor?”. O Papa se manteve em silêncio por um instante e, com voz terna e cheia de afeto, respondeu: “Ela é minha mãe!”.
O livro aborda os encontros do Papa Francisco com Maria, descrevendo a variedade dos títulos, desde a primeira imagem que ele ganhou de sua catequista, quando tinha 11 anos e se preparava para a Primeira Comunhão (Nossa Senhora das Mercês), passando por Luján, Auxiliadora, Guadalupe, Rosário, Desatadora dos Nós, Pompeia, Aparecida, Ternura... Interessante recordar as razões que o fizeram visitar Aparecida, em 2013, quando veio ao Brasil como Papa Francisco. O livro apresenta, ao menos, quatro razões: pedir a intercessão de Nossa Senhora ao seu ministério; alertar a Igreja de nosso continente para não se esquecer do Documento de Aparecida; convidar a Igreja a imitar as atitudes dos pescadores na abertura ao mistério, na confiança, simplicidade e missionariedade. Neste último ponto, imitar as atitudes de Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves, aqueles que “pescaram” primeiramente o corpo e, na sequência, a cabeça da imagem, temos muito o que aprender, mesmo tendo passado mais de três séculos. “A missão nasce precisamente dessa fascinação divina, dessa maravilha do encontro. Falamos de missão, de Igreja missionária. Penso nos pescadores que chamam seus vizinhos para ver o mistério da Virgem. Sem a simplicidade do seu comportamento, nossa missão está fadada ao fracasso. A Igreja tem sempre a necessidade urgente de não desaprender a lição de Aparecida; não pode esquecê-la”, afirmou Francisco numa das suas falas em 2013 no Rio de Janeiro. Recordou da mensagem que Nossa Senhora nos transmitiu ao serem unidas as duas partes da imagem. “Aquilo que estava quebrado retoma a unidade”, ou seja, a Igreja não pode esquecer de sua missão em ser instrumento de reconciliação.
Nestas alturas, alguém pode ter percebido que faltou mencionar uma razão para o Papa Francisco ter retornado a Aparecida. Supõe-se que tenha sido gerada por um diálogo entre o então Cardeal Bergoglio e um funcionário do hotel onde estava hospedado, na despedida da 5ª Conferência, em 2007. A pessoa que lá trabalhava perguntou-lhe “se era verdade que tinha ficado em segundo lugar no último conclave. Ele apenas sorriu. Depois a pessoa lhe disse: ‘Bom, se o senhor for o próximo Papa, espero que venha nos visitar’. E Bergoglio respondeu: ‘Como não?’” (p.134-135).
Que Nossa Senhora Aparecida, em sua simplicidade e sensibilidade, ternura e amor, nos ajude a melhor compreender nossa vocação e missão, a sentir o coração arder, inquieto, impulsionando os pés a se colocarem no caminho!