16/01/2023
Uma carta do século II, intitulada Carta a Diogneto, traça uma bela descrição da identidade cristã, e que, certamente, pode servir de inspiração e orientação para quem busca testemunhar a fé, especialmente em tempos delicados: “Os cristãos [...] não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e especulação dos homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano.
Pelo contrário, vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida social admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, e cada pátria é estrangeira.
Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põem a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem às leis estabelecidas, mas com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, desse modo, lhes é dada a vida; são pobres, e enriquecem a muitos; carecem de tudo, e têm abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida”.
Reconhecer e tornar conhecido o testemunho dos antigos pode ser de auxílio para fortalecer a própria fé. É que a fé é um con-verter-se a Deus: dirigir o olhar finalmente a Ele, orientar a Ele a própria vida, aderir a Ele. A relação com Ele se torna parâmetro para todos as outras formas de relação, ordenando a própria existência, ordenando-lhe o tecido que a constitui. Desse modo, a existência humana adquire uma identidade característica, como constatado pelo autor da carta citada.