08/04/2022
Os rostos condenatórios: O primeiro rosto que Jesus encontra no caminho da cruz, é o rosto da condenação e da injustiça. Rosto de religiosos invejosos, políticos, poderosos e de uma multidão contagiada pela maldade. Preferem Barrabás ao inocente. Este poder condenatório e a manipulação da multidão continuam a permear nossa humanidade. Quantos ainda hoje são injustamente condenados e execrados pelas multidões, inclusive pelas redes sociais. Jesus nos convoca ao perdão. “Não sabem o que fazem”.
O rosto de Verônica: Verônica não é famosa e nem do faz parte daquelas que seguiam o mestre. É a mulher discreta. Como tantas mulheres na história da Igreja. Silenciosa e próxima. Capaz de parar os soldados e Jesus parar dar-lhe alívio nas dores. É a imagem de tantas mulheres que ousam romper as barreiras das multidões tomadas de condenação, de indiferença, de passividade ante a dor, o sofrimento e a morte de nosso tempo. Há muitas Verônicas nos tempos atuais. Pessoas que veem o verdadeiro ícone de Jesus na face do irmão. Mulheres corajosas, solidárias, que aliviam os sofrimentos dos chagados no corpo e no espírito. São capazes de empatia e de proximidade com a dor do outro, cujos rostos são os rostos do Senhor. “A mim o fizestes”!
O rosto de Cirineu. Um desconhecido. Um estrangeiro de Cirene. Tem nome: é Simão. Talvez comum na época. Pedro também era Simão. Mas este é de fora, não é do círculo dos discípulos. Estava a passar por ali. Porém, não é daqueles que dizem “não é de minha conta. Estou fora disto”! Meio que obrigado, mas ajuda. Faz parte do caminho santo. Não lavou as mãos, nem apontou os dedos para colaborar com a morte. Carregou a cruz do Senhor. É o encontro com a solidariedade, com a ajuda, com quem assume parte da dor do outro. Há muitos Cirineus no caminho de nossa vida. Aliviam o peso da nossa cruz. Muitas vezes longe do grupo dos amigos que temos. Fazem-se necessários novos Cirineus, dispostos a assumir as dores dos que habitam as ruas, dos dependentes químicos, das vítimas das guerras, do tráfico humano, dos refugiados ou migrantes que chegam às nossas cidades. Há muita dor para ser partilhada e assumida. Um ombro amigo sempre faz bem!
O rosto das mulheres piedosas: As mulheres têm uma sensibilidade própria. Estas estão compadecidas e com dó para com o condenado. Têm pena de Jesus. Choram por suas chagas. Mas Ele é capaz de ser altaneiro e forte. Não as condena. É altruísta mesmo nas condições de extrema dor. “Chorai sobre vossos filhos”. Poderia ter-se calado, ficado irado, ou revidado pela condenação. Não! Ele abre a boca para consolar e para convidar à conversão, à mudança de vida e das estruturas da sociedade e de das famílias. Convida-as a entrar na lógica do Reino. No fundo, Jesus coloca compromisso no choro das piedosas mulheres. Não basta ter pena. É preciso olhar para si e mudar que está ao alcance de nossas decisões. “Chorai sobre vos mesmas e vossos filhos”!
O rosto dos soldados. Um oficial e alguns soldados após a morte de Jesus disseram: “ De fato, ele era mesmo o Filho de Deus”. Olham o Crucificado. Mas o Senhor já estava de olhos fechados. Seu coração, porém, já tocara a alma daqueles homens. Um olhar que muitas vezes esquecemos. Os malfeitores confessam agora o que Jesus sempre esperou dos homens religiosos de seu tempo? Ou mesmo de seus discípulos? É que Deus tem seu modo de cativar seus filhos, mesmo os distantes e reticentes. A crueldade, Os golpes pesados e os açoites deram lugar a um coração capaz de ver naquele homem crucificado, o Filho de Deus. Ele é capaz de mudar os corações mais duros. Só não invade como ladrão. Entra onde o coração se abre. É possível passar da condenação para a salvação. O bom ladrão fizera o mesmo. O perdão não tem limites, sobretudo quando ele vem diretamente da cruz e do autor do perdão e da salvação.
O rosto de sua Mãe e do Discípulo. Entre as mulheres estava Maria, a mãe. Maria olha para Jesus. Ele contempla sua Mãe. Olhar de mãe e filho imersos na dor. Quem estaria a sofrer mais? Ela ouvira do anjo “Ele será grande”. E Jesus não se apequenou. Grande na dor e no sofrer. Grande no amor. Quanta dor neste encontro. Mas que seria capaz de medir este amor? Amor não se mede, mas é certo que neste encontro o amor elevou-se aos céus. “Não há maior amor do que doar a vida”. Jesus é doação. Maria se doa toda e em tudo. “Faça-se em mim segundo a tua vontade”!
Dos discípulos, um permanece ao pé da cruz. O discípulo amado. O que mais poderoso e caro poderia haver a um filho senão a mãe! Jesus a entrega ao amigo discípulo. “Eis aí tua mãe!” O Filho de Deus é capaz desta ‘loucura da cruz ‘ como diz Paulo. Doou-se todo e de tudo se despojou. Deixa para a mãe a herança: o discípulo. “Eis aí teu filho”! Uma herança de mãe e de filho. “! A partir daquela hora ele a levou consigo”.
O rosto da humanidade: Do alto da cruz Jesus, o Filho de Deus contempla o rosto de toda a humanidade. “Tudo está consumado”. Ele tinha presente a humanidade toda e cada homem. Seu olhar tem o horizonte de seu coração. O infinito do amor. É Deus que manifesta seu amor supremo. “Em tuas mãos entrego meu espirito”. Jesus se fizera tudo para a salvação do mundo. Quem doara a vida, recebe agora a morte como resposta. Mas o amor de Deus é capaz de ir além. Amor que é amor nunca morre. Consumiu-se por puro amor. Do rosto cheio de dor e de chagas, o Filho de Deus deixa sua herança: a salvação. O ser humano reconciliado. Então, os olhos que se fecharam na cruz, se abrirão na ressurreição. E este olhar permanece a contemplar a humanidade. Um olhar de amor duradouro e eterno. Na cruz, sua sabedoria nos falou da grande lição de quem ensina com amor. “Deus amou tanto o mundo”. A vida venceu a morte. Ressurreição.