ANO JUBILAR DA ESPERANÇA[1]
O Papa Francisco convoca, para 2025, o Ano Jubilar da Esperança, com o tema principal “Peregrinos de Esperança”. Pede à toda Igreja uma experiência profunda com a bela virtude da Esperança. No documento de anúncio deste Ano Jubilar - Spes non confundit (A esperança não decepciona), lançado em 9 de maio, o Papa se inspira na Carta de São Paulo aos Romanos “uma vez que fomos justificados pela fé, estamos em paz com Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo. Por Ele tivemos acesso, na fé, a esta graça na qual nos encontramos firmemente e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus (…). Ora, a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5,1-2.5)” (SNC 2). A Esperança paulina não brota de uma ilusão, nem de um pensamento positivo humano, mas da certeza do Amor Divino, pois “nada e ninguém poderá jamais separar-nos do amor de Deus” (SNC 3;Rm 8,35.37-39). Nada nos separa desse amor do Senhor por nós! A Esperança é dom gratuito de Deus, presente do alto, juntamente com suas virtudes irmãs da Fé e da Caridade. Essas virtudes teologais nos capacitam para a peregrinação da vida, rumo à eternidade. No céu, permanecerá o amor.
ANO JUBILAR
Na Bíblia, o Ano Jubilar é um ano declarado “santo”. Neste período, a ei de Moisés prescrevia que a terra, da qual Deus era o único dono, regressasse ao antigo proprietário e os escravos readquirissem a liberdade. As dívidas deveriam ser perdoadas. O Jubileu era preparação para o tempo Messiânico, Jesus, quando inicia seu ministério, anuncia: “O Espírito do Senhor está sobre mim, por que Ele me ungiu, para levar a boa-nova aos pobres. Ele me enviou para proclamar a liberdade aos presos e recuperação das vistas aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar um ano da graça da parte do Senhor” (Lc 4,18-19). É esse ano da graça que a Igreja está proclamando em 2025!
O Ano Jubilar inicia na Igreja em 1.300, como um desejo do povo da diocese de Roma, para comemorar 1.300 anos do nascimento de Cristo, desejo que foi acolhido pelo Papa Bonifácio VIII. Anos Jubilares Ordinários iniciavam-se com intervalo de 50 anos. Depois, foram antecipados em cada 25 anos, um por geração. O Papa pode também proclamar Anos Jubilares Extraordinários, cujos temas sempre respondem à uma necessidade do tempo presente, no pós-guerra, Pio XII chamou a viver um Jubileu da Reconciliação; João Paulo II, no final do Milênio, pediu um Jubileu da Encarnação; o Papa Francisco pediu a igreja um Jubileu com a experiência da Misericórdia (2015/2016). Para 2025, nosso Papa chama a Igreja a um Jubileu Ordinário da Esperança, para dar ao mundo sem alegria um grande testemunho vibrante da Esperança.
Estes dois Jubileus preparam o Grande Jubileu Extraordinário de 2033, a maravilhosa comemoração dos 2000 da Salvação, o Jubileu da Redenção (2033) (cf. SNC,6).
GRAÇA JUBILAR (INDULGÊNCIA)[2]
Uma graça própria do Ano Jubilar é o recebimento da Indulgência muitas vezes , entendida de forma errada e até mágica. Indulgência vem do latim que significa complacência e perdão de uma pena, consequência gerada pelo pecado. É como se fosse um furo na parede gerado por um prego. O prego, na comparação, tiramos no Sacramento da Confissão. Resta o conserto na parede, que a indulgência refaz. A Indulgência pressupõe a experiência do Sacramento da Reconciliação, pois ela cura as marcas e consequências dos pecados já absolvidos sacramentalmente. A indulgência liberta o coração dos fardos dos erros antigos, as cicatrizes, trazendo Esperança de vida liberta pela Redenção de Cristo. A indulgência pode ser recebida para si mesmo ou para um falecido. Ela pressupõe as condições para recebê-la, mostrando sinais de conversão para quem a recebe. A Indulgência é a manifestação da Misericórdia Divina, que brota dos méritos de Cristo e dos Santos que viveram em plena harmonia com Deus e os irmãos.
Para “todos fiéis verdadeiramente arrependidos, excluindo qualquer apego ao pecado e movidos por um espírito de caridade, e que, no decurso do Ano Santo, purificados pelo sacramento da penitência e revigorados pela Sagrada Comunhão, rezem segundo as intenções do Sumo Pontífice, poderão obter do tesouro da Igreja pleníssima Indulgência, remissão e perdão dos seus pecados, que se pode aplicar às almas do Purgatório sob a forma de sufrágio”[3]. Para receber a indulgência, o fiel deve:
1. Confessar-se em espírito de Conversão e caridade;
2. Participar da Santa missa ou celebração e comungar;
3. Rezar nas intenções do Papa;
4. Realizar as práticas de piedade e misericórdia.
A tais práticas penitenciais, devem se somar:
· as sagradas peregrinações aos lugares Jubilares;
· nas piedosas visitas a lugares sagrados com a prática de um bom tempo de adoração eucarística e a meditação, sendo concluído com o Pai Nosso, Profissão de Fé a alguma invocação à Mãe de Deus;
· as Obras de Misericórdia e de Penitência, valorização de tais como práticas da oração pelos mortos, concedendo para este ano duas indulgências por dia para as almas do purgatório.
SINAIS DA ESPERANÇA
O Concilio Vaticano II, na Constituição pastoral Gaudium et Spes, convida a Igreja a um diálogo com a sociedade, em sua desafiadora missão no mundo. O Papa Francisco, na Bula do Ano Jubilar, desafia a Igreja a olhar com coragem e a iluminar a realidade com a “luz do Evangelho” (cf. SNC 7) e a buscar transformá-la com renovados “Sinais de Esperança”. Para cada realidade de sofrimento, o Papa aponta um olhar esperançoso e desafiador:.
Olhar a violência, a guerra, o conflito e buscar a Paz dos Filhos de Deus (cf. SNC,7).
Olhar os casais receosos em gerar, para que despertem a coragem confiante em serem abertos à vida (cf. SNC,8).
Olhar a realidade consumista e individualista e viver com Esperança a mensagem do Evangelho (cf. SNC,9).
Olhar os encarcerados, nossos irmãos reclusos, com Esperança e propor uma verdadeira ressocialização e anistia, lutar pela abolição da pena de morte (cf. SNC 10).
Olhar os que sofrem e exercer as “obras de misericórdia que são obras de Esperança (cf. SNC,11).
Olhar os jovens sem sonhos, desiludidos, desempregados e escravos das drogas e de buscas efêmeras, e lhes propor a Esperança de um mundo novo (cf. SNC,12).
Olhar os migrantes, exilados, deslocados e refugiados em função de guerras, violência e descriminações, para que lhes seja garantido o acesso ao trabalho, a instrução necessária e seus direitos garantidos (cf. SNC,13).
Olhar os idosos abandonados e solitários, na busca que eles sejam valorizados em sua sabedoria e experiência, criando uma aliança entre as gerações (cf SNC,14).;
Olhar os pobres, sem moradia e alimentação, e colocá-los como prioritários. A pobreza não é algo natural, mas uma ferida em nossa sociedade, que necessita ser sarada (cf. SNC,15).
[1] Texto elaborado pelo Pe. Daniel José Alves da Silva, pároco da Paróquia N. Sra. Do Rosário, Mariana Pimentel e Vigário Episcopal do Vicariato de Guaíba.
[2] Ver Catecismo da Igreja Católica 1471-1479.
[3] Papa Francisco – Sobre a Concessão de indulgência durante o Jubileu Ordinário do Ano de 2025. Ver também: https://www.cnbb.org.br/como-alcancar-indulgencias-jubileu-2025-documento-regras/