ANTÔNIA JUELENA

 

Muito provavelmente conhecemos poucas mulheres com o nome de Juelena. Claro, Antônia é bem mais fácil de encontrar ou recordar. Remete ao Santo famoso, nascido em Portugal e falecido na Itália, aquele chamado de casamenteiro pelos solteiros, ou de aliado dos pobres, segundo outros, e, ainda, de protetor de obras socioeducativas, conforme alguns santos da Igreja. O Santo influenciou muitos pais e mães a batizarem seus filhos com o seu nome.

 

"Não gosto que me chamem de Antônia: prefiro Juelena", dizia a dona Antônia, ou a Juelena, "Lene" para os mais próximos, "tia Lene" para os sobrinhos. Não gostava do primeiro nome, ou o respeitava demais, ou simplesmente preferia aquele que foi sugerido aos pais pela mana mais velha, a Julieta, que pensou em unir “Ju” (de Julieta) com “Helena”?

 

Certo é que Juelena e Miguel se casaram no dia de Santo Antônio! Ela, de Orleans, com nome de Santo; ele de Nova Veneza, com nome de Anjo.

 

Conheceram-se em Criciúma, justamente numa festa de casamento. Ela, 10 irmãos, ele, 13. Deve ter sido uma festança essa união! Cesconetos e Destros, ao estilo das origens italianas.

 

Miguel, fiel escudeiro na terra, subitamente transformou-se em anjo do céu e continuou zelando a sua esposa e os seus dois filhos, desde lá do ladinho de Deus. Antônia contava, à época, 27 anos. Confiante, trabalhou e educou seus filhos e sempre encontrou tempo para educar outros filhos e filhas de Deus, como catequista e ministra da Eucaristia, por muitos anos, além da participação em grupo de famílias, no apostolado da oração, na reza do terço, entre outros. “O terço é minha proteção”, afirmava. E o utilizou até o fim.

 

Gostava de cantar! Não só em casa e na Igreja, mas como soprano na Associação Coral de Criciúma, no Coral da Santa Bárbara e no Coral da Universidade do Extremo Sul Catarinense, construindo amizades sinceras nos ensaios e nas viagens a festivais.

 

Como mãe, catequista e participante ativa da comunidade, ensinou a rezar, brincar, estudar, trabalhar, acreditar, amar, enfim, a caminhar no bom caminho. Lembrava das peripécias da sua infância, coisas de criança! No álbum das fotos, uma raridade: a sua, aos dois anos de idade, já destacando o seu olhar característico. Fotografia rara naqueles anos de 1944, guardada com cuidado.

 

O ano de 1996, aos 54 anos, foi um dos mais significativos a ela. Em agosto, o filho caçula foi ordenado sacerdote; e, um mês depois, o outro casou. Aos 59 anos começou a ser avó. E para a neta, a única, transmitiu os olhos azuis, da cor do céu, da cor do manto de Nossa Senhora! Sim, dona Juelena tinha o hábito de colocar flores diante da imagem de Nossa Senhora. E, claro, fazia suas orações. "Ela sorri para mim, quando converso com ela", dizia. E ficava admirada ao ver que as flores permaneciam vivas e bonitas por muito tempo, mais que o normalmente esperado.

 

Na ordenação episcopal do filho, em 2023, na Catedral Mãe de Deus, em Porto Alegre, na memória do Imaculado Coração de Maria, todos que lá estavam testemunharam a cena e vivenciaram os mesmos sentimentos dela: de gratidão pela vida, de reconhecimento por tantas graças recebidas. No final da celebração, juntamente com a neta e um casal da Equipe de Nossa Senhora de Brasília, ela levou flores aos pés de Nossa Senhora, enquanto um coral de crianças cantava uma música mariana. O buquê de flores foi, no dia seguinte, ofertado à capela da Santa Casa da cidade, justamente onde dona Juelena iniciou seu tratamento contra o tumor no pâncreas, descoberto no final de maio de 2023. Seguramente Nossa Senhora e São Miguel, e tantos outros santos e santas de Deus, ajudaram dona Juelena no período do tratamento.

 

Ficou residindo na Comunidade Nossa Senhora Aparecida (tinha que ser uma Nossa Senhora, não é?), em Canoas, acolhida na casa das Irmãs de Notre Dame (Nossa Senhora). Uma de suas "coirmãs", Ir. Assunta, no dia em que completou 92 anos, em fevereiro, com sua simpatia, assim falou à dona Juelena: "A sua presença entre nós é muito importante". Palavras simples que dizem tudo.

 

A presença de dona Antônia Juelena foi marcante, influenciou, fez história e não passou desapercebida. Sua lembrança permanecerá nos corações que a conheceram, mesmo que brevemente, nos quase 82 anos de vida bem vivida.

 

Obrigado, Juelena. Obrigado mãe! Obrigado vó!