ABERTURA ANO JUBILAR | AS INDULGÊNCIAS
CELEBRAÇÃO EUCARISTIA – ABERTURA DO ANO JUBILAR - 2025
(Catedral Metropolitana – 29/12/2024)
por Dom Jaime Cardeal Spengler
Jesus se insere na obediência de sua família à Lei do Senhor! Ele já tinha estado no templo quando foi oferecido a Deus. Agora, jovem ele retorna com seus pais. Inicia uma nova fase de vida!
Ele afirma que deve ocupar-se das coisas do Pai! O ser humano se torna a palavra que escuta! A palavra nos molda; ela nos gera para uma vida plenamente humana. A atenção à Palavra de Deus torna o ser humano livre, responsável, corresponsável, solidário, irmão!
Jesus faz o seu caminho! Ele tem os olhos fixos no Pai. Ele é peregrino de esperança! Espera e se empenha pelo Reino de Deus e sua justiça. Parentes seus são os que ouvem a Palavra de Deus e a põe em prática.
Ele se deixa encontrar! É encontrado não entre os que se esperava que ele estivesse... Não! Ele se encontra entre os que não se imaginava! Aqui, talvez, podemos nós nos perguntar: ‘onde procuramos Jesus?’ Onde achamos que ele esteja, ou possa estar? – Ele nos surpreende! E nós precisamos aprender a nos deixar surpreender. Para isto é necessário exercitar-se na misericórdia, bondade humildade, mansidão, paciência, capacidade de suportar uns aos outros, perdoar uns aos outros, amar de forma autêntica, rezar, discernir, admoestar uns aos outros, cultivar a gratidão.
Imaginamos que já conhecer Jesus! Conhecer é diferente de ter informações. Temos informações! Conhecer Jesus, segundo o espírito, significa possuir seu espírito, fazer nossos os seus sentimentos!
Jesus é nossa esperança! Nós somos peregrinos de esperança. Iniciamos este ano jubilar com o firme propósito de promover esperança. Existe esperança para todo ser humano. Maria, tendo ouvido que Jesus devia ocupar-se das coisas do Pai, conserva tudo no seu coração. Jesus se ocupa das coisas do Pai. Nós, peregrinos de esperança, somos convidados a cultivar o mesmo modo de ser d’ele!
Como reagimos diante da violência, das guerras, da miséria e da fome de tantos, do desemprego, da falta de atenção para com a saúde – sobretudo dos mais fracos! - do descalabro da educação, da corrupção, do desrespeito pela coisa pública, da polarização eu satisfaz expressões políticas que carecem de atitudes próprias de estadistas, dos escandalosos salários de alguns, dos países pobres sobrecarregados por dívidas injustas, dos ataques a instituição família, dos que defendem o aborto, do terrorismo, do racismo, da propagação de ideologias que diminuem a dignidade do feminino e do masculino?...
Traduzir a esperança cristã nas diversas situações da vida em nosso contexto social atual – eis nosso desafio! A esperança cristã não permite indiferença, preguiça, mediocridade... Ela não pode ser revestida com ideologias estranhas à fé ou utopias mundanas.
A esperança possui o poder de curar quando a nossa fé e o nosso amor estão em crise. E nós sabemos que existem muitos vales obscuros no nosso caminho, nos nossos numerosos encontros com o mal e o sofrimento, e suas consequências!
A esperança pode nos conduzir por caminhos onde a mera racionalidade não pode se aventurar; também não nos deixa acomodados, tranquilos... A esperança cristã requer coragem! A missão da esperança é aquela de nos encorajar para trilhar o caminho da maturidade na fé. O seguidor de Jesus é sinal de contradição; é fermento de transformação; é sal da terra, luz do mundo...
“A esperança cristã não engana nem desilude, porque está fundada na certeza de que nada e ninguém poderá jamais separar-nos do amor divino. Esta esperança não cede nas dificuldades: funda-se na fé e é alimentada pela caridade, permitindo assim avançar na vida” (Papa Francisco).
Este é o Jubileu, este é o tempo da esperança! E ele convida-nos a redescobrir a alegria do encontro com o Senhor, chama-nos a uma renovação espiritual e compromete-nos na transformação do mundo.
Somos convidados a levar a esperança onde ela se perdeu: onde a vida está ferida, nas expectativas traídas, nos sonhos desfeitos, nos fracassos que despedaçam corações; no cansaço de quem já não aguenta mais, no sofrimento que consome a alma, na solidão amarga de quem se sente derrotado e/ou abandonado; nos dias longos e vazios dos encarcerados – estes lugares que pouco ou nada recuperam da dignidade humana, ou recuperam para o convívio social; nos espaços apertados e frios dos pobres, nos lugares profanados pela guerra, pelo tráfico de pessoas, de drogas, de armas, onde reina a violência. Levar esperança nestes lugares, semear esperança nesses locais.
Maria e José viram e ouviram! O que viram e o que ouviram? – O jovem Filho tomado pelo amor do Pai. Contemplando as atitudes de Jesus, encontramos indicações, inspiração para crescer no caminho do discipulado, na vida de um seguidor/a do Filho Amado.
Maria, vendo e ouvido, tudo guardou no coração! Não para manter para si! Ao contrário! Ela se tornou mensageira e testemunha de esperança! Que o Senhor nos conceda a graça de sermos também nós testemunhas e mensageiros de esperança no cotidiano de nossas vidas.
As Indulgências
A Indulgência é expressão da ilimitada misericórdia divina que, através da mediação da Igreja, ajuda a superar as penas temporais, que são consequência do desequilíbrio que o pecado traz consigo na relação com Deus, com o próximo e com a criação. Pode ser aplicada aos vivos e aos falecidos.
Sendo assim, a Indulgência sempre vem associada ao sacramento da penitência-reconciliação. Por quê? Porque o pecado sempre traz consigo duas dimensões: a culpa e a pena. A culpa pode ser superada pelo arrependimento junto com o sacramento da penitência-reconciliação. Já a pena (que não é punição divina, mas resultado da desordem provocada pelo pecado) pode ser eterna ou temporal. A pena eterna é consequência do pecado grave, ou seja, da ruptura radical da comunhão com Deus. Neste caso somente o sacramento da penitência-reconciliação pode apagá-la. A pena temporal, por sua vez, é consequência do mal que se espalha pelo próprio ato de pecar, e esse mal se espalha por si, independentemente da absolvição sacramental. Desse modo, a pena temporal requer uma purificação para ser apagada, nesta vida ou no Purgatório. Para isso, a indulgência é de grande ajuda, e pode ser aplicada a si mesmo ou às almas do Purgatório (para que possam concluir mais cedo seu processo de purificação).
A Indulgência se fundamenta na “comunhão dos santos” e no “tesouro da Igreja”. Na verdade, o cristão nunca está só, pois pertence ao Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. A este Corpo Místico pertencem àqueles que estão nesta vida terrena, aqueles que estão no Purgatório e aqueles que já foram admitidos na pátria celeste. Nisto se dá a “comunhão dos santos”: a santidade e a oração de uns podem ajudar na purificação dos que estão nesta vida e também na purificação das “almas do purgatório”.
Já o “tesouro da Igreja” diz respeito não a bens materiais, mas ao valor infinito e inesgotável dos méritos de Cristo junto ao Pai em favor da salvação da humanidade. Refere-se, também, às preces e obras da Virgem Maria e de todos os santos, que muito contribuem para a salvação dos irmãos e irmãs na unidade do Corpo Místico. Este tesouro de amor é incomparavelmente maior do que os efeitos do pecado e pode, portanto, ser “aplicado” para remir as penas temporais.
A partir disso, se pode compreender melhor e desejar a Indulgência, que é divina e se dá pela ação da Igreja, pois ela recebeu de Cristo a missão de “ligar e desligar” os pecados (cf. Mt 16,19; 18,18; Jo 20,23). Assim, a Indulgência significa abrir este tesouro aos fiéis para a remissão das penas temporais, incentivando, também, obras de piedade, penitência e caridade. Como os falecidos que se encontram no Purgatório são membros do Corpo Místico de Cristo e participam da comunhão dos santos, podemos ajudá-los obtendo para eles Indulgência em forma de sufrágio, para remissão de suas penas temporais.
Para a concessão de Indulgência durante o Jubileu do Ano 2025, proclamado pelo papa Francisco, o documento da Santa Sé afirma que os fiéis, verdadeiramente arrependidos e excluindo qualquer apego ao pecado e movidos pelo espírito de caridade, purificados pelo sacramento da penitência-reconciliação e revigorados pela Sagrada Comunhão, rezando segundo as intenções do Sumo Pontífice, poderão receber do tesouro da Igreja pleníssima Indulgência, remissão e perdão de seus pecados, que se pode aplicar às almas do Purgatório sob a forma de sufrágio, realizando sagradas peregrinações, piedosas visitas aos lugares sagrados e/ou obras de misericórdia e penitência.
Que possamos, então, abrirmo-nos para mais esta manifestação da inesgotável misericórdia divina.
Pe. Eduardo Pretto Moesch
Vigário Paroquial da Paróquia São João Batista, Porto Alegre
e Professor no Curso de Teologia da PUCRS