08/04/2022
“Assim como a semana tem o seu início e o seu ponto culminante na celebração do domingo, marcado pela característica pascal, assim também o ápice de todo o ano litúrgico resplandece na celebração do sagrado tríduo pascal da paixão e ressurreição do Senhor, preparada na Quaresma e estendida com júbilo por todo o ciclo dos cinquenta dias sucessivos” (Paschalis Sollemnitatis, 2).
Nos aproximamos da Semana central de nossa fé, a Semana Santa. Desde a Quarta-feira de Cinzas, quando ingressamos na caminhada quaresmal, somos conduzidos pela Palavra de Deus e pela liturgia, em seus símbolos, seus ritos e suas preces, a mergulhar no mistério de nossa redenção. Por meio de sua Paixão, Morte e Ressurreição, o Senhor realizou de uma vez por todas a misteriosa vontade do Pai, que ama com amor infinito a humanidade e a resgata do pecado e da morte.
A celebração anual da Ressurreição do Senhor nos leva, no cotidiano de nossas vidas, a fazer com ele a passagem da escuridão para a luz sem ocaso, da morte causada pelo pecado, para a vida plena que ele nos garantiu com seu sangue derramado na cruz. Já o Mistério Pascal de Cristo não pode permanecer somente no passado, mas participa da eternidade divina, abraça todos os tempos e se mantém permanentemente presente (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1085).
A Semana Santa começa com o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor; lembra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, aclamado pelo povo hebreu e também a narrativa da Paixão do Senhor, “que une em um todo o triunfo real de Cristo e o anúncio da paixão”(cf. Paschalis Sollemnitatis, 28). A Igreja recorda os louvores da multidão proclamando: “Hosana ao Filho de Davi. Bendito o que vem em nome do Senhor” (Lc 19, 38 e Mt 21, 9) e os gritos da mesma multidão que pedia sua crucificação. Com este gesto manifestamos nossa fé em Jesus Cristo, Rei e Senhor.
Na Quinta-feira Santa celebramos a Instituição da Eucaristia e do Sacerdócio Ministerial. Neste dia cada Bispo com seu clero, reunindo a Igreja local num sinal de unidade, celebra a Missa da renovação das promessas de nossos presbíteros. É feita também a bênção dos óleos dos Enfermos e dos Catecúmenos e a consagração do Crisma, que são usados nas diferentes celebrações de Iniciação e Consagração. Com a Missa da Ceia do Senhor (In Cena Domini), celebrada ao entardecer ou noite da Quinta-feira Santa, a Igreja dá início ao chamado Tríduo Pascal e comemora a Última Ceia: Instituição da Eucaristia, onde Jesus, na noite em que foi traído, ofereceu a Deus Pai o seu Corpo e Sangue sob as espécies do Pão e do Vinho, e os entregou a seus discípulos para que repetissem este gesto em memória Dele, a Instituição do Sacerdócio. Durante a missa pode ocorrer a cerimônia do Lava-Pés que lembra o gesto de Jesus na Última Ceia, quando lavou os pés dos seus discípulos. É um gesto de humildade e de serviço, um exemplo para os discípulos e para a toda a Igreja. Entrega à sua Igreja, o Mandamento Novo, o Mandamento de seu Amor.
Na Sexta-Feira Santa a Igreja guarda o grande silêncio diante da celebração da morte do seu Senhor, dia de jejum, abstinência de carne e profunda oração. Pelas três horas da tarde pode ser celebrada a Paixão e Morte do Senhor, único dia do ano que não se celebra a Eucaristia (não se celebra Missa). Na celebração da Paixão do Senhor temos: Liturgia da Palavra, Adoração da cruz e Comunhão eucarística. Não adoramos a cruz como um objeto de madeira, mas adoramos o Cristo pregado na Cruz. A Cruz de Cristo, o madeiro que se tornou santo pois recebeu o salvador e nele foi derramado o sangue redentor.
Durante o Sábado Santo a Igreja permanece junto do sepulcro do Senhor, meditando a sua paixão e morte, a sua descida aos infernos, e esperando na oração e no jejum a sua ressurreição. “Segundo uma antiquíssima tradição, esta noite é em honra do Senhor, e a vigília que nela se celebra, comemorando a noite santa em que o Senhor ressuscitou, deve ser considerada como ‘mãe de todas as santas vigílias’ (cf. Santo Agostinho). Nesta vigília, de fato, a Igreja permanece à espera da ressurreição do Senhor e celebra-a com os sacramentos da iniciação cristã” Paschalis Sollemnitatis, 77). Na celebração da Vigília temos cinco grandes elementos que a compõem: a) A bênção do fogo novo e do círio pascal; b) A proclamação da Páscoa, que é um canto de júbilo anunciando a Ressurreição do Senhor; c) A liturgia da Palavra, na qual temos uma série de leituras sobre a história da Salvação; d) A renovação das promessas Batismais; e) A liturgia Eucarística.
No domingo seguinte celebramos a Páscoa anual, a qual celebramos com toda solenidade, convém que o ato penitencial seja substituído pelo rito da aspersão, recordando o “povo novo” mergulhado em Cristo, morto para o pecado e vivo para Deus. A liturgia desta Grande Semana é profunda e muito rica em sua mistagogia. Cada gesto, cada palavra, cada símbolo nos conduz para bem celebrar os mistérios fundantes de nossa fé. A vitória de Cristo é a vitória de cada um de nós que morreu com Ele no Batismo e ressuscitou para a vida permanente em Deus; agora e na eternidade. Celebrar a Semana Santa é celebrar a vida que vence a morte, a vitória para sempre, o dia pleno sem fim da nova criação. É recomeçar uma vida nova, longe do pecado e em comunhão mais intima com Deus que nos resgata, que nos ama.
Vivamos na intensidade da fé esta Semana, fazendo memória de cada passo de Nosso Senhor, em sua Paixão, Morte e Ressurreição, trazendo em nosso “hoje”, o “hoje” de Cristo, que hoje dá seu Corpo e Sangue, que hoje abraça a humanidade de todos os tempos em sua Cruz, e que hoje rompe a escuridão do sepulcro, e nos dá a esperança de crer num mundo novo por Ele restaurado.