22/09/2021
Há 50 anos a Igreja no Brasil nos convida a tomar o mês de Setembro (no qual encerramos no dia 30, com a memória de São Jerônimo), como o Mês da Bíblia, para melhor nos dedicarmos à leitura orante, ao estudo, a escuta e a vivência da Palavra de Deus. Isso não quer dizer que devamos esquecer a Bíblia nos demais meses do ano, mas a cada setembro somos chamados a intensificar nossa proximidade com esta Palavra que é “lâmpada para nossos pés e luz em nosso caminho” (Sl 119, 105).
Espaço privilegiado da Palavra de Deus é a Liturgia, pois nos reunimos, constituímos assembleia convocada pelo Senhor, para escutar o que Deus fez e faz por nós, seu povo. O Concílio Vaticano II coloca a Palavra de Deus, novamente em evidência e destaque, a Constituição Dogmática Dei Verbum afirma: “A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma como o próprio corpo do Senhor, já que, principalmente na Sagrada Liturgia, sem cessar, toma-se da mesa tanto da Palavra de Deus quanto do Corpo de Cristo, o pão da vida, e o distribui aos fiéis” (nº, 21). Comungamos não só do Pão Eucarístico, mas também do Pão que sai da boca de Deus (cf. Mt 4, 4), a sua Palavra de Vida e Salvação. A Constituição, para a Liturgia do Concílio Vaticano II, Sacrosanctum Concilium afirma: “Com a finalidade de mais ricamente preparar a mesa da Palavra de Deus para os fiéis, os tesouros bíblicos sejam mais largamente abertos…” (nº, 51) e segue: “A missa consta de duas partes: a liturgia da Palavra e a liturgia Eucarística. Estão de tal maneira unidas entre si que constituem um único ato de culto” (nº, 56). A Palavra, com sua luz, com seu Espírito, ilumina e nos ajuda a compreender o rito que celebramos. Se não tivéssemos a presença da Palavra de Deus em cada ação ritual, por meio do Espírito Santo que conduz e abre nossos corações, esta ação estaria vazia de sentido. O centro de toda ação litúrgica é o Mistério Pascal de Cristo, por isso a liturgia é profundamente mistagógica, celebra e conduz para a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, centro e fundamento de nossa fé.
Quando temos diante de nós o Mês da Bíblia, por vezes pensamos que devemos “criar e dinamizar” as celebrações de acordo com a temática do mês que nos é proposto. Pois bem, é preciso estar atento para não fugir do essencial. O Mês da Bíblia não se celebra cantando cantos que falem sobre o Livro Sagrado do início ao fim de uma missa, por exemplo. Não precisamos criar entrada especial para a Bíblia em nossas missas, a liturgia não necessita deste tipo de “criação”. Deixemos a liturgia hodierna falar, ali estão as “pistas” necessárias e privilegiadas para bem celebrarmos. Não necessitamos falar sobre a Palavra de Deus, mas sim, deixar ela mesma ser proclamada. Não entrar com a Bíblia em momento “criado”, mas durante o canto de abertura e com o Evangeliário.
Também vamos celebrar bem o Mês da Bíblia, com leitores proclamando bem as leituras do dia, no ambão; do Lecionário, e não do folheto. Cantar a Palavra de Deus, com cantos litúrgicos biblicamente inspirados ou, por vezes, citando integralmente trechos bíblicos, em plena sintonia com as leituras do dia. Deixemos os “cantos bíblicos” para o momento de envio (canto final), pois eles ajudarão a assembleia a bem viver a sua missão específica para este mês: ler, rezar, escutar, celebrar e viver a Palavra de Deus, para que ela penetre em nosso ser a fim de que sejamos homens e mulheres da Palavra que é viva e eficaz (cf. Hb 4, 12).