24/02/2022
DIGNIDADE HUMANA
Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano
O ser humano tem sua origem sem que sua vontade seja levada em consideração. Desenvolvendo-se no ventre de uma mãe, está radicalmente unido ao ser da mulher. Ele não é um apêndice do corpo da mulher, mas um ser em desenvolvimento, abrangendo em si a vida física, psíquica e espiritual da mãe. Exprime-se, assim, o essencial da maternidade e da feminilidade, ou seja, dar vida. Por um lado, o ser humano que está sendo gerado pertence à mãe e dela vive, por outro lado tal ser é dela subtraído, pois já possuidor de personalidade. Até o nascimento, seu desenvolvimento depende totalmente da mãe, depois do grupo social.
O grupo social é constituído de indivíduos, como expressões da fundamental intangibilidade da vida humana. O modo de existir do ser humano provém de um início simples, ou seja, da união de dois gametas e posterior divisão de uma célula ou da união de duas, passa por meio de uma serie de transformações, até experimentar a morte. Já as primeiras células possuem a plena totalidade estrutural da vida futura; elas contêm em potência todas as formas geradas não somente durante o desenvolvimento embrionário, mas também nas fases que se seguirão ao nascimento. Desde o primeiro instante de sua concepção, o indivíduo traz a marca da própria personalidade e identidade; é único! Jamais pode ser considerado ‘número’ e assim dissolvido na massa.
Na verdade, concepção e morte, evolução e decadência, infância e maturidade, saúde e doença pertence àquela totalidade denominada ser humano.
A ciência possui uma lógica! Também a vida! E esta ensina que ações eticamente errôneas, ainda que consideradas úteis, mais cedo ou mais tarde conduzem a consequências nocivas ao ser humano. A mentira, por exemplo, pode se mostrar vantajosa inúmeras vezes; porém, acaba arrancando o apoio seguro da própria existência. A vida humana jamais pode estar à baila do subjetivismo egoísta ou opiniões de alguns e nem servir a ‘objetivos de Estado’.
Há uma questão de fundo que precede qualquer debate em torno da dignidade da vida humana: a sociedade está verdadeiramente comprometida com a promoção do bem comum? A resposta a tal questão pressupõe consciência moral, ética, honestidade, ação, dedicação e, até mesmo sacrifício, qual o caminho para que “todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10).