Arquidiocese pelo mundo: uma conversa com o padre Eduardo Santos

15/02/2022

Arquidiocese pelo mundo: uma conversa com o padre Eduardo Santos

A Arquidiocese de Porto Alegre dá continuidade a uma série de reportagens sobre os sacerdotes que estão fora do território estudando ou desenvolvendo trabalhos em outras missões. A segunda entrevista é com o padre Eduardo Santos, que atualmente reside na cidade de Victoria, no estado da Columbia Britânica, costa oeste do Canadá.  Ordenado em 1991, padre Eduardo trabalhou em diversas paróquias da Arquidiocese, entre as quais Nossa Senhora de Fátima de Sapucaia do Sul, Coração de Jesus, no bairro Higienópolis, São João Batista, Nossa Senhora da Piedade, São José do Sarandi e Jesus Divino Mestre. Também estive um período morando e trabalhando na Cúria de Porto Alegre – no tempo de Dom Altamiro Rossato –  e lecionou Teologia na PUCRS por mais de 10 anos. Confira a entrevista com o padre Eduardo Santos.

 

Há quanto tempo o senhor está no Canadá? Qual o nome da cidade? Nome da comunidade em que trabalha?

 

Padre Eduardo Santos –  Eu cheguei no Canadá no mês de novembro de 2016 e sempre estive na cidade de Victoria que é a capital da Província da British Columbia na costa do Pacífico. A cidade de Victoria tem na sua área uma população de meio milhão de habitantes, está localizada numa ilha que fica em frente à cidade de Vancouver. Aqui eu sou pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, que é uma paróquia pessoal para os fiéis de língua portuguesa. O meu trabalho aqui consiste em dar apoio às comunidades de imigrantes de língua portuguesa e espanhola, assim que na prática eu trabalho basicamente com latino-americanos.  Entre os anos de 2009 e 2011 morei na cidade de Edmonton, na província de Alberta.

 

Quais foram os principais desafios para sua adaptação na chegada ao Canadá? Já está adaptado ao inverno canadense?

 

Pe. Eduardo – Para ser sincero, quiçá pelo contato com as comunidades latinas, eu não tive muitos problemas de adaptação. Talvez o mais complicado tenha sido o idioma inglês... isto custa um pouquinho. Quanto ao clima, a cidade de Victoria é abençoada com um clima excelente, de fato é o melhor clima do Canadá. Contudo mesmo o inverno não sendo muito rigoroso por aqui em comparação com o resto do país, ainda é um pouco mais frio que Porto Alegre.

 

Como é a comunidade em que o senhor está inserido? Muito diferente do que vivenciou no Brasil?

 

Pe. Eduardo – Bem a minha comunidade é basicamente formada por imigrantes. Ela pode ser dividida em três grupos:

Primeiro o povo de língua portuguesa. Trata-se de um grupo de açorianos que construíram esta igreja. Este é um grupo que está aqui há mais de 50 anos e, portanto, é uma comunidade idosa, os filhos e netos já nasceram por aqui. Ainda entre os de língua portuguesa está o grupo de brasileiros, que não para de crescer, este é um grupo formado basicamente de casais novos com filhos pequenos e que estão chegando no Canadá nos últimos anos.

Em segundo lugar está o grupo dos latinos: Este é muito parecido com os brasileiros, é um grupo que está chegando e não para de crescer. A maior parte deles vem do México, Colômbia e Peru, mas tem uruguaios, argentinos, chilenos, bolivianos, venezuelanos, panamenhos, salvadorenhos, nicaraguenses, guatemaltecos, costarriquenhos (acho que eu lembrei de todos).

Em terceiro lugar está o grupo de língua inglesa, alguns também frequentam esta paróquia por morar no bairro. Eu também auxílio fraternalmente em outras paróquias da cidade (onde o ministério é logicamente realizado em inglês) e sou capelão de uma escola católica de ensino médio (St. Andrew's High School).

Para que tenham uma pequena ideia, nos domingos eu celebro três missas: às 9h em inglês, às 11h em português e às 13h em espanhol.

 

 É muito diferente a vida cotidiana em um país com alto nível de desenvolvimento humano como o Canadá?

 

Pe. Eduardo – É diferente sim, mas lembrem-se que toda a moeda tem dois lados. Alguns problemas frequentes no Brasil não existem por aqui, contudo existem outros desafios.

 

Na sua missão como Padre no Canadá alguma dificuldade específica lhe chamou a atenção?

 

Pe. Eduardo – Talvez o mais difícil seja viver numa cidade muito secularizada, onde os católicos representam ao redor de 5% da população. Também eu trabalho numa diocese muito extensa e de difícil locomoção por tratar-se de muitas pequenas ilhas habitadas por comunidades distantes umas das outras. Sobretudo com os imigrantes o desafio é mantê-los unidos e vivendo a sua fé em comunidade e assim enfrentar o secularismo e o individualismo.

 

Sente falta de alguma coisa em especial no Brasil?

 

Pe. Eduardo – Como eu estou constantemente com brasileiros... a verdade é que às vezes esqueço que estou tão longe. Nunca falta uma família para convidar para uma comidinha brasileira e uma conversa amiga. Vale a pena notar que também temos um grupo do Rio Grande do Sul, assim que até o mate e o churrasco estão garantidos.

 

 Como foi enfrentar o Covid no Canadá?

 

Pe. Eduardo –  Creio que foi duro como para todos em todo o mundo. O lockdown foi difícil mas estamos superando essa crise. Devo dizer que aqui se enfrentou muito bem a situação, e na minha região, com 1 milhão de habitantes, tivemos um pouco mais de 100 mortes desde o início da pandemia.

 

Se quiser acrescentar alguma informação que não foi perguntada que ache interessante fique à vontade...

 

Pe. Eduardo – Talvez um rápido comentário sobre a importância de acompanhar os nossos imigrantes. A América Latina toda vive um momento difícil e muitos abandonam a sua terra natal para construir a vida numa nação estranha. A vida do imigrante nunca é fácil e encontrar a Igreja os acolhendo, e encontrar nesta acolhida a sua língua e a sua cultura, faz toda a diferença. Algo semelhante aconteceu no nosso estado pois os imigrantes alemães e italianos vieram acompanhados de padre e religiosas e a vitalidade religiosa do Rio Grande do Sul é fruto em grande parte deste ministério junto aos imigrantes.

 

Para os fiéis que eventualmente quiserem visitá-lo no Canadá, como devem proceder? Qual melhor época? Dicas para o povo.

Pe. Eduardo – Bem, sempre é melhor vir ao Canadá no verão. Aqui estou na cidade de Victoria e sempre me dá muita alegria receber visitas.

O meu endereço é o seguinte:

Our Lady of Fatima Parish

4635 Elk Lake Dr.

V8Z 5M2 Vistoria BC

padre.ed@gmail.com

 



Autor:
Marcos Koboldt

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