Arquidiocese pelo mundo: uma conversa com o Padre Maurício Jardim

18/03/2022

Arquidiocese pelo mundo: uma conversa com o Padre Maurício Jardim

A Arquidiocese de Porto Alegre continua a série de reportagens sobre os sacerdotes que estão fora do território estudando ou desenvolvendo trabalhos em outras missões. A quarta entrevista é com o padre Maurício Jardim, 53 anos, diretor das Pontifícias Obras Missionárias (POM) no Brasil e que atualmente reside em Brasília. Confira: 

 

Fale sobre sua trajetória na Arquidiocese. Lembranças da Infância Adolescência, formação, ordenação e primeiras paróquias por onde passou.

 

Padre Maurício Jardim - Sexto e último filho do casal Cecy da Silva Jardim e Honório Corrêa Jardim (falecido), natural de Sapucaia do Sul - paróquia N. Sra de Fátima. No ensino médio estudei quatro anos numa escola técnica (CETEMP), curso de Técnico em Mecânica de Precisão, concluído em 1988. Trabalhei dois anos como técnico mecânico industrial na Edisa informática. Entrei para o seminário na etapa do propedêutico em 1991 com 21 anos e fui ordenado presbítero em 11 de dezembro de 1999 aos 30 anos.

Atividades pastorais:

 – Vigário paroquial na paróquia São Vicente de Paulo em Cachoeirinha em 2000 e 2001.

-  Assessor da Pastoral da Juventude da arquidiocese de Porto Alegre de 2002 a 2007.

-  Pároco da paróquia N. Sra. do Caravágio em Porto Alegre, de 2007 a 2008.

-  Missionário em Moçambique de 2008 a 2012 pelo projeto Igreja Solidária do Regional Sul III.

-  Pároco de São Vicente Pai dos pobres em Gravataí, de 2012 a 2015.

-  Orientador Espiritual do curso propedêutico 2014 e 2015.

- Coordenador da Pastoral Presbiteral da arquidiocese de Porto Alegre de 2013 a 2016 e Vice coordenador do Regional Sul III da CNBB.

- Nomeado em novembro de 2015 como Animador Vocacional da arquidiocese de Porto Alegre, serviço que realizei até junho de 2016.

- Em janeiro de 2015 fiz a primeira etapa da especialização Lato Sensu para Formadores de Presbíteros Diocesanos no Instituto São Tomás de Aquino (ISTA/BH).

- Em março de 2016 fui nomeado pelo cardeal Fernando Filoni da Congregação da Evangelização dos Povos, Diretor Nacional das Pontifícias Obras Missionárias (POM).

- Conclusão da especialização Lato Sensu em Missiologia pelo ISTA/MG em julho de 2017.

 

O senhor esteve na África em missão. Conte um pouco sobre este tempo?

 

Padre Maurício - O apelo para Missão Ad Gentes veio através de um retiro orientado por Dom Jaime Kohl, bispo de Osório e na ocasião, referencial do Conselho Missionário Regional da CNBB e responsável pelo projeto Igrejas Solidárias do Sul III. Na época, a Arquidiocese de Nampula, em Moçambique, estava necessitando de um padre para ação missionária em duas paróquias por um período de três anos. Em diálogo com Dom Dadeus Grings, coloquei-me à disposição para ser enviado pelo Regional Sul III para este serviço missionário. O Arcebispo então com generosidade e em espírito de cooperação com a missão universal disse: “Quem somos nós para ir contra o Espírito Santo”. Palavra que me encorajou para partir em agosto de 2008 para esta ação missionária em Moçambique na África.

Foram três anos e seis meses de intensa vida missionária, assumindo duas paróquias com 140 comunidades. Um tempo fecundo para redescobrir a vocação missionária recebida desde o batismo e na configuração a Cristo missionário do Pai e bom pastor, através da ordenação sacerdotal. Em Moçambique aprendi uma nova língua com seus desafios culturais de inserção na caminhada pastoral daquela Igreja local que até hoje necessita de nossa presença missionária.

Aprendi nesta experiência missionária, que se tornou um projeto para toda vida, que a Missão é de Deus e não se restringe ao âmbito da pastoral ordinária das Igrejas particulares, mas é universal, conforme o mandato de Jesus para ir a todos os povos, até os confins do mundo. Creio que esta vivência missionária enriqueceu minha identidade de presbítero diocesano e a Arquidiocese de Porto Alegre que me enviou.

 

Como o senhor recebeu a notícia de sua escolha para a POM?

 

Padre Maurício - No princípio, quando recebi o decreto de nomeação assinado pelo prefeito da Congregação para Evangelização dos Povos, fiquei com medo e me senti limitado diante dos desafios missionários no âmbito nacional. Dado este sim para o novo serviço, entendi que realmente somos cooperadores da única missão de Deus e que o Espírito é o protagonista da missão. Servir nas obras missionárias do Papa num país de 277 Igrejas locais, é um desafio permanente que me ajuda no crescimento pessoal e na busca de formação permanente.

 

Qual é o trabalho e missão da Pontifícia Obras Missionárias?

 

Padre Maurício - As Pontifícias Obras Missionárias, organismos oficiais da Igreja Católica e vinculados à Congregação para a Evangelização dos Povos, são uma rede mundial de oração e solidariedade para apoiar o Papa no seu compromisso missionário com todas as Igrejas particulares. Realizam isso mediante a oração, que é a alma da missão, e o auxílio material aos cristãos no mundo inteiro, ajudando a despertar a consciência missionária Ad Gentes.

As Pontifícias Obras Missionárias têm como objetivo “promover o espírito missionário universal no seio do povo de Deus” (Congregação para Evangelização dos Povos, Cooperatio Missionalis, 5).

 

As POM foram criadas espontaneamente pelo fervor missionário expresso pela fé dos batizados. Duas mulheres (Pauline Marie Jaricot e Jeanne Bigard), um Bispo (Charles de Forbin-Janson) e um sacerdote (Pe. Paolo Manna) foram os fundadores carismáticos de um grande movimento de cooperação missionária na Igreja.

 

Pauline Jaricot, jovem francesa iniciou com um grupo de operárias uma rede de oração e solidariedade para apoiar os missionários franceses na China, dando origem à obra da Propagação da fé. Esta única inspiração anima as quatro obras que existem para intensificar a animação, a formação e a cooperação missionária em todo o mundo. “Às quatro Obras atribui-se a qualificação de ‘pontifícias’ porque se desenvolveram também com o apoio da Santa Sé que, ao fazê-las próprias, lhes concedeu um caráter universal” (Cooperatio Missionalis, 4). Em 1922 o Papa Pio XI fez a elevação das três primeiras obras ao caráter pontifício.

 

AS QUATRO OBRAS PONTIFÍCIAS:

1 –  Pontifícia Obra da Propagação da Fé – fundada em 1822 por Pauline Marie Jaricot, visa suscitar o compromisso pela evangelização universal em todo o povo de Deus e promover, nas Igrejas particulares, a ajuda espiritual e a cooperação material. No Brasil, a Obra tem atividades junto às juventudes, às famílias, aos idosos e enfermos.

2 – Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária – fundada em 1843 por Dom Carlos Forbin-Janson, visa despertar a consciência missionária universal nas crianças e adolescentes, animando-as a partilhar a fé e os bens materiais. O lema que traduz o carisma da Obra é: “Crianças e adolescentes rezando e ajudando crianças e adolescentes”.

3 – Pontifícia Obra Missionária de São Pedro Apóstolo – fundada em 1889 por Joana Bigard e sua mãe Stephanie, visa sensibilizar o povo cristão sobre a importância do clero local das Igrejas mais necessitadas. Incentiva os fiéis a colaborar espiritual e materialmente com a formação dos candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada.

4 – Pontifícia União Missionária – fundada em 1916 pelo Beato Padre Paolo Manna, é responsável pela formação missionária do clero, dos seminaristas, da vida consagrada masculina e feminina e dos cristãos leigos e leigas.

 

Há algum exemplo de ação da POM na Arquidiocese de Porto Alegre que podemos mencionar?

 

Padre Maurício - As POM organizam no Brasil, todo mês de outubro de cada ano, a Campanha Missionária com o objetivo de promover a animação e cooperação missionária. A arquidiocese de Porto Alegre recebe todos os anos os subsídios produzidos pelas POM para animação missionária: Novena Missionária, vídeos com testemunhos missionários, cartaz, oração missionária, mensagem do Papa e envelope para a coleta missionária. A coleta é realizada no penúltimo final de semana de outubro, no Dia Mundial das Missões. De todo o recurso obtido, 80% destina-se à Congregação para a Evangelização dos Povos, em Roma, a qual faz circular um fundo universal de caridade, mantendo 1.050 Igrejas particulares, nas periferias mais necessitadas do mundo.

Outra ação das POM na Arquidiocese se dá através do Conselho Missionário de Seminaristas (COMISE).  O COMISE existe para fomentar, naqueles que estão em processo de formação inicial, a consciência da missão como identidade do cristão e favorecer-lhes uma sólida espiritualidade e formação missionária que os tornem capazes de enfrentar os desafios da ação evangelizadora da Igreja: na pastoral, na nova evangelização e na missão ad gentes (aos povos).

 

O senhor foi reconduzido na direção das POM por mais cinco anos e também eleito como coordenador para as Américas. Quais são os planos para este novo período?

 

Padre Maurício - O primeiro mandato na direção das POM de 2016-2021 ajudou-me no conhecimento dos grandes desafios missionários da Igreja do Brasil e participar do processo de elaboração do Programa Missionário Nacional. Agora no segundo mandato, em espírito de sinodalidade com as instituições e organismos missionários em nosso país que participam no Conselho Missionário Nacional (COMINA) desejo dar continuidade a execução das quatro prioridades do Programa Missionário: Formação, Animação missionária, compromisso profético social e Missão ad gentes. Penso no desafio da comunhão entre todos os sujeitos da missão e a exigência de despertar em medida maior uma mentalidade missionária orientada a universalidade e a superação de uma pastoral de mera conservação.

No serviço às POM das Américas temos uma caminhada de sinodalidade e comunhão através de assembleias, reuniões e diálogo com o comitê executivo internacional das POM. Estamos preparando o Congresso Missionário Americano (CAM 6) que será realizado em Porto Rico, no ano de 2024. Um longo caminho a percorrer.

 

O senhor reside atualmente em Brasília. Conte para o povo como é a rotina de um sacerdote para celebração de sacramentos (Eucaristia, Confissão) quando assume função diretiva em uma instituição como a POM

 

Padre Maurício - Vivo na sede nacional das POM, numa comunidade presbiteral com dois padres, sendo um diocesano e outro religioso. Nossa rotina quando estou em casa é celebrar diariamente a eucaristia com laudes às 7h e trabalho nas secretarias que estão no mesmo espaço da residência. Viajamos para todos os cantos do Brasil, sobretudo nos finais de semana, para assessorias, aulas de missiologia, congressos, formações missionárias e retiros para presbíteros e seminaristas. Quando ficamos em casa no final de semana ajudamos em paróquias na arquidiocese de Brasília.

 

Agradeço a Arquidiocese de Porto Alegre na pessoa de Dom Jaime Spengler e dos bispos auxiliares que sempre me incentivaram na vida de missionário presbítero, a todos colegas padres pela fraternidade presbiteral e ao Povo de Deus pela oração e incentivo a causa missionária. Com a graça de Deus, no final deste segundo mandato em 2026 à serviço das POM, volto para cooperar na mesma missão de Deus em nossa arquidiocese de Porto Alegre. Obrigado a pastoral da comunicação pela oportunidade de tornar conhecido o trabalho das POM e minha caminhada de ministro ordenado. Abraço

 

Entrevistas anteriores

 

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Autor:
Marcos Koboldt

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