14/02/2024
“Vós sois todos Irmãos e Irmãs”, extraído do Evangelho de São Mateus. É com este lema que a Campanha da Fraternidade 2024 foi lançada na Arquidiocese de Porto Alegre, em evento realizado no auditório do Mensageiro da Caridade, no bairro Azenha, na capital. O arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB, Dom Jaime Spengler, os bispos auxiliares Dom Bertilo João Morsch, Dom Juarez Albino Destro, Dom Odair Miguel Gonçalves dos Santos - referencial da dimensão Caridade, participaram do encontro, que foi prestigiado por sacerdotes, diáconos, religiosos e lideranças das comunidades paroquiais e de organismos ligados à dimensão da Caridade na Arquidiocese.
O painel de debates foi composto pelo arcebispo de Porto Alegre, o gerente sócio-educativo do Pão dos Pobres, João Rocha, e o promotor de Justiça aposentado Afonso Konzen. O evento foi transmitido ao vivo pela Rádio Aliança 106.3 FM. O dia 14 de fevereiro marca para os católicos a abertura do Tempo da Quaresma quando os fiéis recebem a bênção das Cinzas. O gesto concreto da Campanha da Fraternidade ocorre sempre no Domingo de Ramos com a Coleta da Solidariedade. Os recursos são investidos em projetos inscritos no Fundo Nacional de Solidariedade (FNS).
Quaresma e Campanha da Fraternidade
O arcebispo de Porto Alegre recordou a sintonia entre o tema da Campanha da Fraternidade e o tempo da Quaresma vivido pela Igreja Católica. “O convite a todos católicos para a conversão é agora. Somos filhos e filhas de um mesmo Pai. Necessitamos urgente de reconciliação. Celebrar a CF é um sinal forte de alinhamento com o centro do Evangelho. Celebrar o respeito porque cada ser humano é diferente. Todos merecem ser acolhidos. Que esta temática ilumine nossas escolhas para vivermos relações humanas mais atentas. A tarefa de todos nós é deixar um mundo melhor para as futuras gerações”, enfatiza Dom Jaime Spengler.
O arcebispo de Porto Alegre refletiu sobre as eventuais críticas que a Campanha da Fraternidade sofre ao longo dos tempos. “Em alguns ambientes católicos se critica a realização da Campanha durante a Quaresma. Gosto de recordar nestas horas as palavras do Papa Bento XVI (1927-2022). A tentação de transformar o cristianismo em moralismo, de concentrar tudo na ação moral do ser humano é grande, em todos os tempos. Ele (Bento) recorda Santo Agostinho, que ensina que a santidade e a retidão de vida cristã não consiste em um talento superior. Se fosse assim, o cristianismo se converteria em uma religião para alguns heróis ou grupos eleitos. Esta citação é muito importante, pois quando uma pastoral abre mão da dimensão social da evangelização, a cristologia implícita assume uma cristologia na qual a encarnação de Deus é vista de forma fictícia. Celebrar durante a Quaresma a Campanha da Fraternidade é um sinal forte de sintonia com a medula do Evangelho”, declara Dom Jaime Spengler.
O bispo referencial para a dimensão da Caridade, Dom Odair Miguel, abordou a importância das relações humanas com a Campanha da Fraternidade. “Precisamos combater o individualismo. Vivemos em um mundo globalizado, com potencial para o fortalecimento das relações. Existe um paradoxo entre individualidade e individualismo. As relações humanas são tanto melhores quando somos solidários. O Papa Francisco nos desafia a ir além de um grupo de amigos. Quanta inimizade. Precisamos sair desta realidade. O diálogo é o caminho para ver a realidade de uma maneira nova. A Campanha da Fraternidade quer despertar para a beleza da fraternidade humana, identificando ações de comunhão”, reforçou o bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre.
Mensagem do Papa Francisco para o Brasil
Queridos irmãos e irmãs do Brasil,
Ao iniciarmos, com jejum, penitência e oração, a caminhada quaresmal, uno-me aos meus irmãos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil num hino de ação de graças ao Altíssimo pelos 60 anos da Campanha da Fraternidade, um itinerário de conversão que une fé e vida, espiritualidade e compromisso fraterno, amor a Deus e amor ao próximo, especialmente àquele mais fragilizado e necessitado de atenção. Este percurso é proposto a cada ano à Igreja no Brasil e a todas as pessoas de boa vontade desta querida nação.
Neste ano, com o tema "Fraternidade e Amizade Social" e o lema "Vós sois todos irmãos e irmãs" (cf. Mt 23, 8), os bispos do Brasil convidam todo o povo brasileiro a trilhar, durante a Quaresma, um caminho de conversão baseado na Carta Encíclica Fratelli tutti, que assinei em Assis, no dia 3 de outubro de 2020, véspera da memória litúrgica de São Francisco.
Como irmãos e irmãs, somos convidados a construir uma verdadeira fraternidade universal que favoreça a nossa vida em sociedade e a nossa sobrevivência sobre a Terra, nossa Casa Comum, sem jamais perdermos de vista o Céu, onde o Pai nos acolherá a todos como seus filhos e filhas.
Infelizmente, ainda vemos no mundo muitas sombras, sinais do fechamento em si mesmo. Por isso, lembro da necessidade de alargar os nossos círculos para chegarmos aqueles que, espontaneamente, não sentimos como parte do nosso mundo de interesses (cf. FT 97), de estender o nosso amor a "todo ser vivo" (FT 59), vencendo fronteiras e superando "as barreiras da geografia e do espaço" (FT 1).
Desejo que a Igreja no Brasil obtenha bons frutos neste caminho quaresmal e faço votos que a Campanha da Fraternidade, uma vez mais, auxilie às pessoas e comunidades desta querida nação no seu processo de conversão ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, superando toda divisão, indiferença, ódio e violência.
Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida, e como penhor de abundantes graças celestes, concedo de bom grado a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial àqueles que se empenham pela fraternidade universal, a Bênção Apostólica, pedindo que continuem a rezar por mim.
Roma, São João de Latrão, 25 de janeiro de 2024, festa litúrgica da conversão de São Paulo Apóstolo.
Franciscus