03/04/2024
O Pontifício Colégio Pio Brasileiro, ligado à Conferência Episcopal do Brasil (CNBB), destina-se a acolher padres brasileiros para estudos de pós-graduação em Roma. Neste ano, o Pio Brasileiro completa 90 anos de história neste dia 3 de abril. O arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB, Dom Jaime Spengler, participa da celebração da data ao lado dos formadores e estudantes. No ano de 2014, a gestão do colégio passou para a CNBB.
Por ocasião do 85º aniversário do Pio, Dom Jaime Spengler transmitiu a seguinte mensagem em nome da presidência da CNBB: “A alegria da comunidade do Pontifício Colégio Pio Brasileiro pelo 85º aniversário de sua fundação é nossa alegria. Desde que assumimos a Presidência da CNBB, o Pio Brasileiro esteve sempre presente em nossas reuniões, preocupações e orações. Temos consciência de sua importância para a Igreja no Brasil. Constatamos como é providencial termos à disposição de nossas Dioceses esta casa em Roma – uma extensão de nossas Igrejas Particulares. É possível que os senhores que trabalham neste Colégio e os senhores Presbíteros-estudantes não percebam quanto é grande o bem que prestam à nossa Igreja. Somos testemunhas de que os olhares desta Comunidade estão sempre voltados para o Brasil. Nas visitas que lhes fizemos, ao longo dos últimos quatro anos, pudemos constatar com quanto carinho e preocupação a Comunidade do Pio acompanha o que acontece em nosso país, particularmente, agora que vive momentos delicados e difíceis”.
História do Pio Brasileiro
Sua origem remonta a 1858, quando Pio IX, papa na época, criou em Roma um colégio para oferecer formação qualificada a futuros sacerdotes de toda a América Latina. Era o Pontifício Colégio Pio Latino-Americano. No Brasil, ainda havia poucos seminários e não existia o acesso a estudos especializados em Teologia. Por isso, muitos brasileiros também estudaram no “Pio Latino”, entre os quais o cardeal Dom Vicente Scherer (1903-1996), que foi arcebispo de Porto Alegre entre os anos de 1947 e 1981.
No Natal de 1927, os bispos do Brasil enviaram uma carta às comunidades católicas do país, expondo os motivos para a criação de um colégio, em Roma, destinado à formação de candidatos brasileiros para o sacerdócio. Ao mesmo tempo, apelavam para a generosidade dos fiéis em apoiar este projeto com recursos materiais.
Já em 1929, apesar da forte crise econômica mundial, foi lançada a pedra fundamental para a construção do Pontifício Colégio Pio Brasileiro; o cardeal Sebastião Leme, do Rio de Janeiro, foi um dos grandes incentivadores de sua edificação. Em 3 de abril de 1934, o colégio foi inaugurado e abriu as portas para a primeira turma de alunos; eram apenas 34, entre os quais, o futuro cardeal Agnelo Rossi. Em 1939, já eram 52 alunos. A direção do colégio foi confiada aos jesuítas pelo papa Pio XI, tendo o acompanhamento atento também da própria Santa Sé.
Em 1943, por dificuldades para viajar à Itália e pela escassez geral de alimentos, o número de alunos baixou para apenas 12. Conta-se que, para suprir a falta de alimentos, até o campo de futebol do colégio foi transformado em terreno para cultivar batatas. Atendendo ao apelo de Pio XII às casas religiosas, também o colégio escondeu um grupo de judeus perseguidos pelo nazismo; um deles, em sinal de gratidão, esculpiu uma imagem da Virgem Maria, que lá se encontra ainda hoje. Dois anos após o final da Segunda Guerra Mundial, um dos estudantes que desembarcou para estudos no Pio foi o Cônego Luís Vunibaldo Melo da Silveira, que neste ano completou 70 anos de ordenação sacerdotal. A caminhada de fé dele está contada nesta matéria.
https://www.arquipoa.com/noticias/conego-melo-celebra-no-mes-de-marco-os-70-anos-de-sua-ordenacao-sacerdotal
Após a guerra, o número de alunos subiu rapidamente e, em 1954, chegou a abrigar 130 jovens, que faziam seus estudos nas universidades eclesiásticas romanas. Durante o Concílio Vaticano II, nos anos 1960, os estudantes tiveram a oportunidade de ouvir conferências de grandes teólogos, como Karl Rahner, Henri De Lubac, Dominique Chenu e Joseph Ratzinger.
Até os anos 1960, os estudantes eram, na maioria, jovens ainda não ordenados sacerdotes; aos poucos, os padres foram substituindo os seminaristas até que, no final dos anos 1980, o colégio passou a receber apenas sacerdotes para estudos nas diversas universidades eclesiásticas em vista do mestrado e do doutorado. Desde então, a média anual de alunos do Pio Brasileiro mantém-se em cerca de 90 estudantes.
Muitos sacerdotes da Arquidiocese de Porto Alegre passaram pelo Pio Brasileiro nestes 90 anos. O Pe. Pedro Alberto Kunrath, pároco da paróquia São Sebastião, na capital, residiu na casa de Roma em duas oportunidades, nos anos 1980 para os estudos do Mestrado, e nos anos 1990, para o Doutorado, ambos cursados na Pontifícia Universidade Gregoriana.
“Tive a alegria e ao mesmo tempo a missão de passar duas temporadas residindo no Pontifício Colégio Pio Brasileiro. Saudade dos padres e irmãos Jesuítas que trabalhavam na formação do clero, as irmãs filhas do Amor Divino, que serviam na casa. Sobretudo o convívio com colegas de diferentes partes do Brasil, também latino-americanos e colegas padres da África. O Pio Brasileiro faz parte da história da Igreja no Brasil”, recordou o Pe. Pedro Alberto Kunrath.
Pároco da paróquia Nossa Senhora Medianeira, na capital, Pe. Talis Pagot embarcou para o seu período de estudos no ano de 2017, quatro anos após a sua ordenação presbiteral. “Foram dois anos de Mestrado na área de Teologia Moral, o qual concluí no ano de 2019. No mês de outubro daquele ano iniciei o Doutorado, que acabou interrompido por um período de 2020 em razão da Pandemia. Retornei para a Itália no final daquele ano onde permaneci até o final do ano de 2022 e defendi a minha tese em fevereiro de 2023. Foi um período muito agradável. O colégio está localizado a três quilômetros do Vaticano e a seis da área mais central de Roma. É um local de um excelente convívio entre os padres brasileiros. O Pio oferece momentos de retiro, passeios, pregação com sacerdotes, além de um excelente ambiente de estudo, contando com uma biblioteca excelente. Também na pastoral colaboramos com as paróquias da região celebrando missas, cobrindo férias dos padres locais, também nos momentos fortes como a Páscoa e o Natal.”
O Pe. Rafael Fernandes Martins, professor na Faculade de Teologia da PUCRS e formador do Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição, em Viamão, também residiu no Pio Brasileiro. Ele relata a sua experiência. “Residi no Colégio Pio Brasileiro entre agosto de 2014 e fevereiro de 2018. Na época fui liberado das funções pastorais na Arquidiocese de Porto Alegre, por Dom Jaime Spengler, para realizar o doutoramento em Teologia Sistemática, na Pontificia Università Lateranense, de Roma. Na época, fui enviado para habitar no Colégio Pio Brasileiro, que estava sendo administrado pelos Jesuítas até aquele preciso momento. Logo em outubro de 2014, a CNBB assumiu a administração, encarregando como Reitor do Pio Brasileiro o padre diocesano Geraldo Maia, de Minas Gerais. O grupo de estudantes era composto por cerca de 85 padres de diferentes partes do Brasil. Havia também no grupo colombianos. As Irmãs da Congregação das Filhas do Amor Divino ajudavam na gestão da casa. A convivência com padres, bispos, irmãs e funcionários no Colégio foi muito enriquecedora. Trazia-nos um olhar mais amplo sobre a Igreja no Brasil e na Itália. Durante o meu período formativo no Pio Brasileiro, chegaram novos irmãos do presbitério de nossa Arquidiocese: o Pe. Leandro Chiarello, para ser o novo Ecônomo do Colégio, e o Pe. Talis Pagot, que, na época, iniciava seu ciclo de estudos em Teologia moral. Agradeço muito à Igreja no Brasil por nos oportunizar um local, como o Pio Brasileiro, tão propício para a tarefa de estudos eclesiásticos especializados em Roma.”
Do clero da Arquidiocese, são residentes atualmente no Pio Brasileiro os padres Edilon Rosales e Gustavo Batista, além do Pe. Geraldo Hackmann, diretor de estudos. “Residir no Colégio Pio Brasileiro é uma verdadeira experiência de comunhão da Igreja no Brasil. Conviver com colegas padres de todas as regiões do Brasil é uma oportunidade de enriquecimento cultural e eclesial. O Colégio proporciona uma bela estrutura para aqueles que por alguns anos se dedicaram ao ministério do estudo. A história do colégio foi construída junto a história vocacional de milhares de padres brasileiros que aqui residiam. Estar no colégio nesse momento de aniversário de 90 anos é uma verdadeira graça de Deus e isso comporta um senso de responsabilidade e de compromisso com a Arquidiocese de Porto Alegre que me enviou para essa oportunidade de estudo”, comentou Pe. Gustavo Batista.
Entre as atividades previstas para a celebração dos 90 anos, a comunidade do colégio será recebida em audiência pelo Papa Francisco nesta quinta-feira (4).