Comunidades Eclesiais Missionárias: a experiência da paróquia Nossa Senhora Aparecida, do Guajuviras, em Canoas

10/11/2021

Precisamos recomeçar. E recomeçar a partir de Jesus Cristo. Esta foi a convicção trazida pelo padre Marcus Barbosa Guimarães para a primeira etapa da Assembleia Arquidiocesana, que reuniu, pela internet, clero e lideranças leigas da ArquiPoa de forma inédita na última quinta-feira, 4 de novembro. Um recomeço necessário como resposta pastoral a uma mudança de época e à convicção de que é preciso repensar a forma de transmitir os valores do Evangelho. “A conversão pastoral se apresenta como desafio irrenunciável”, como definem as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil (DGAE, 33). A implantação das Comunidades Eclesiais Missionárias traduzem esta mudança; elas são a única prioridade da Igreja no Brasil para os desafios do atual contexto urbano.

“A vida fraterna em pequenas comunidades -- abertas, acolhedoras, misericordiosas, de intensa vida evangélica -- constitui fundamento sólido para o testemunho da fé”, diz trecho das DGAE (24), que continua, citando a Carta Apostólica “Porta Fidei”, do Papa Bento XVI: "a renovação da Igreja realiza-se também através do testemunho prestado pela vida dos crentes: de fato, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou" (PF, n. 6). Para o Papa Bento XVI ainda, conforme Motu Proprio “Intima Ecclesiae natura” (1), "a Igreja é chamada à prática da diaconia da caridade também em nível comunitário, desde as pequenas comunidades locais passando pelas Igrejas particulares até a Igreja inteira".

Confira, abaixo, mais uma experiência de Comunidade Eclesial Missionária vivida na ArquiPoa:
 


 

Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Guajuviras, Canoas/RS)
Um caminho de resgate da fé e formação dos formadores

Para Vivian Simone Peres Rodrigues, 51 anos, catequista há mais de 20 anos na paróquia Nossa Senhora Aparecida, do bairro Guajuviras, em Canoas, as Comunidades Eclesiais Missionárias são uma oportunidade do reavivamento da fé e da doutrina da Igreja. “Eu estou encantada. Muito bom perceber que sempre temos o que conhecer. A cada encontro eu aprendo muito, e não só com o conteúdo do material de catequese para adultos, mas especialmente pela força do testemunho dos outros.”

Segundo as DGAE, as comunidades são formadas por um pequeno grupo de pessoas, que possibilite gerar intimidade, que tenham fé em Jesus Cristo, se conheçam, partilhem a vida e que cuidem uns dos outros como discípulos missionários. São comunidades abertas, acolhedoras, com um profundo espírito missionário, que buscam tirar a pessoa do anonimato, reconhecem e valorizam o potencial de cada um. Reúnem-se semanalmente e têm uma grande capacidade de atrair, motivar e se multiplicar.

Para Vivian Simone, nunca é demais conhecer os fundamentos da tradição cristã e a Palavra de Deus. “Já fiz muitas formações. Sou aquela que senta sempre na frente para não perder nada. E o Espírito Santo é tão grandioso que é Ele que me ilumina quando uso um conteúdo que eu já tenha estudado para ajudar alguém quando eu menos espero”, conta ela, que é uma das 35 pessoas envolvidas nas três comunidades formadas na paróquia, todas elas catequistas.

A Comunidade Eclesial Missionária é uma oportunidade de renovação também para as lideranças, que precisam dar atenção à sua própria fé. Foi o que percebeu Jeferson Cristian Guterres de Carvalho, 37 anos, catequista do Crisma e animador de um dos grupos. “Somos muito mais formadores e deixamos de ter a formação para nós. Estou revivendo a catequese e renovando minha  fé”, testemunha ele. “A pandemia trouxe muitos casos de baixa autoestima, e sinto que os nossos encontros renovam a fé e elevam a autocompaixão. É um resgate das primeiras comunidades, estamos vivenciando o que os primeiros discípulos vivenciaram”, reconhece.

Com o trabalho iniciado em agosto deste ano, Jeferson conta que os encontros já começaram a ser presenciais, tomando todos os cuidados sanitários necessários. “A nossa comunidade se reúne dentro da capela, um lugar bem espaçoso, com as janelas laterais abertas, cadeiras bem espalhadas e sempre de máscara. Cada um leva sua bíblia e seu livro para diminuir a troca de material.” 

Evangelização como expansão do território

As Comunidades Eclesiais Missionárias podem ser territoriais ou não, isto é, podem se formar por gente que reside próxima, mas podem também dispensar a proximidade física, pois o que interessa são os vínculos existenciais e esses não exigem residir perto. Esta reunião deve ser alimentada pela Palavra de Deus, a oração em comum, a partilha da vida e a revisão dos compromissos missionários. 

Para o padre Cláudio D'Angelo Castro, pároco da Nossa Senhora Aparecida, a formação das pequenas comunidades é essencialmente missão. “Tem locais aqui no bairro Guajuviras que não tem igreja, não tem comunidade paroquial. Minha esperança é que essas comunidades cheguem nesses lugares que não pertencem à paróquia alguma ainda. Desejo alcançar mais pessoas, fora do nosso âmbito paroquial”, sonha ele. “Temos regiões em nossa cidade que não se sabe a qual paróquia pertencem. As comunidades podem chegar lá.”

(A foto de destaque desta matéria foi tirada antes da pandemia do novo coronavírus.)
 



Esta matéria é parte de uma série de três relatos de paróquias da ArquiPoa a partir de suas experiências na implantação de Comunidades Eclesiais Missionárias.

Matéria anterior
Clique aqui para ler a primeira reportagem da série, que mostrou a importância das comunidades eclesiais missionárias da paróquia Nossa Senhora da Paz, em Porto Alegre, pelo ponto de vista do pároco, de um leigo animador e de um casal de leigos integrantes.

Próxima matéria: 17 de novembro
Relatos de conversão, de fé e de comunidades que seguem aumentando o número de integrantes marcam a experiência da paróquia Menino Deus, em Porto Alegre. A matéria deste dia trará informações sobre como implantar Comunidades Eclesiais Missionárias em uma paróquia.



Autor:
Juliano Rigatti (Ascom)

Fonte:
Ascom

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