12/11/2024
A Assembleia do Clero realizada no dia 30 de outubro, no Seminário Menor São José, em Gravataí, proporcionou momentos de forte testemunho da beleza do ministério ordenado. Convidado pessoalmente pelo arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, o padre Adilson Kunzler partilhou sua caminhada desde a infância, passando pela sua ordenação até o trabalho junto ao povo da paróquia Nossa Senhora da Conceição, no município de Sapucaia do Sul.
Infância
Padre Adilson é gaúcho de Novo Hamburgo. Filho mais velho de três irmãos de uma familia de operários, começou a trabalhar muito jovem. “Desde pequeno queria ser padre. A maior propaganda vocacional que existe para mim é o ser do padre, pois o meu pároco foi um homem santo. Eu fui coroinha e aos 12 anos já queria ir para o Seminário, mas nossa realidade era diferente. Até aos 19 anos trabalhei em uma fábrica, mas nunca perdi o contato com a paróquia e com o pároco. Guardo como relíquia minha carteira de trabalho de menor, que existia naquela época.”
O sacerdote recordou o momento em que falou ao seu pároco sobre a vontade de ingressar no Seminário. “Quando terminei o curso científico, estudava à noite e trabalhava durante o dia na fábrica, fiz um retiro de Carnaval. Ao final me apresentei ao padre e disse que tinha algo importante para falar a ele. O sacerdote disse que já sabia. ‘Tu quer ser padre né, mas é muito difícil, pois tu estuda em um colégio estadual, sem conhecimento de filosofia e teologia’.”
O então jovem Adilson Kunzler com auxílio de seu pároco levou uma carta de indicação ao Pe. Sinésio Bohn, que era o assistente da Associação dos Seminaristas da Arquidiocese. “Sempre tinha mais vagas do que candidatos para a Filosofia. Pois quando tentei entrar tinha mais candidatos do que vagas”, disse Pe. Adilson. “Durante um ano fiquei estudando tudo o que eu podia, com o acompanhamento do pároco, até que consegui entrar no Seminário. Naquele tempo não era comum vocação adulta no Seminário, os candidatos ingressavam muito jovens. Minha ordenação ocorreu em 11 de dezembro de 1976 e a primeira nomeação foi como vigário coadjutor na paróquia Rosário de Fátima, no bairro Rubem Berta. Fiquei dois anos e depois fui transferido para a paróquia São Geraldo”, recordou.
Transferência para Sapucaia do Sul
Alguns meses depois de ser transferido para a paróquia São Geraldo, padre Adilson Kunzler contou que foi chamado pelo cardeal Dom Vicente Scherer – arcebispo de Porto Alegre entre 1947 e 1981 – para falar da situação da paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Sapucaia do Sul. “O que eu fiz para o senhor me enviar a Sapucaia do Sul”, perguntou padre Adilson a Dom Vicente na ocasião, que havia lhe informado que os três párocos anteriores tinham deixado o ministério. “Não estou lhe perguntando, estou mandando”, respondeu o então arcebispo de Porto Alegre ao jovem presbítero. “Não tinha ninguém na minha posse. Pensei, o que vou fazer? A primeira providência foi restaurar a imagem de Nossa Senhora, danificada por goteiras, deformando todo o rosto. Depois comecei a enteder que o que Nossa Senhora queria fazer era restaurar a imagem dela no coração de um povo muito sofrido. A minha situação era difícil. Eu sentava no confessionário e não vinha ninguém. Mas depois vieram 12, depois 20 pessoas. O que está acontecendo? Aí percebi que a minha missão era reconstruir a imagem da Igreja espiritual no coração daquele povo sofrido. A igreja é o que o padre é. A paróquia é o que o padre é. Estou convencido disto.”
Mensagem aos colegas padres
Nos quase 15 minutos em que falou sobre a alegria de ser sacerdote, padre Adilson Kunzler testemunhou também sobre o seu trabalho e como proximidade com os pobres o faz um padre melhor. “Na Liturgia eu estava só. Precisava de outra coisa, da proximidade com os pobres. Um dia me apareceu um médico. E me informou que havia aberto uma comunidade terapêutica em Sapucaia do Sul. Eu pensei comigo. Drogas, Deus me livre. Não quero saber de drogados. O médico me falou. ‘Padre, por favor apenas a missa de abertura.’ Era no outro domingo. Minha ideia era delegar para o ministro, mas o médico disse que queria o padre. Fui muito contrariado. Aí informei que só poderia às 13h, pois de manhã tinha 20 batizados. O médico aceitou. O evangelho daquele domingo era a passagem do filho pródigo. Eu comecei o evangelho e travei. Nunca tive visões, mas senti nitidamente Jesus falar para mim: ‘Você reza no Centro para tantas pessoas e aqui onde estão os meus filhos mais pobres você não quer vir?’. Desde então estou nesta santa encrenca, são 27 anos. Penso que isso melhorou meu sacerdócio, me fez mais humanos. São os pobres que me ajudam a ser um padre melhor. É esta proximidade com os pobres e a oração que fez nestes 48 anos ficar fiel ao celibato, ficar fiel no compromisso de amor com a Igreja, ficar feliz de acolher na minha casa principalmente os pobres. E a comunidade vai bem”, finalizou Pe. Adilson Kunzler.