“Precisamos alcançar a todos!”: nova proposta entusiasma leigos na primeira etapa da Assembleia Arquidiocesana

07/11/2021

"Nossa amada Igreja sempre viva e atenta à realidade do povo de Deus!"
Cristine Damásio

"Parabéns! Muito clara a colocação das propostas das Comunidades Eclesiais Missionárias."
Adenildes Demétrio

"Colocar a mão no arado sem olhar para trás; recomeçar sempre a partir de Jesus Cristo e alicerçados na Palavra."
Enio Delis Pasini Enio

​"Que lindo: explicitar Jesus com nossas vidas, mais que palavras. Que Deus nos dê esta graça!!!"
Irajara Matheus Ribeiro

"Que bênção poder ouvir essa fala tão necessária! JESUS DO LAVA PÉS! Esse é o nosso objetivo: AMAR!"
Pastoral da Comunicação SSC

"Precisamos alcançar a todos!"
Bruno Gomez

As reações acima são uma amostra da participação daqueles que, ao vivo, pelo canal da Arquidiocese no Youtube, estiveram em sintonia com a primeira etapa da Assembleia Arquidiocesana 2021, enquanto ela conectava dezenas de paróquias, a Cúria Metropolitana, os seminários São José e Nossa Senhora da Conceição e o padre Marcus Barbosa Guimarães, subsecretário adjunto de pastoral da CNBB.

De forma inédita, as lideranças leigas das paróquias da Arquidiocese de Porto Alegre uniram-se ao clero com o objetivo de dar vida a uma única prioridade: as Comunidades Eclesiais Missionárias.

O encontro iniciou com oração conduzida pelo padre José Flach e seminaristas do Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição. Em seguida, Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano, acompanhado dos bispos auxiliares Dom Darley José Kummer, Dom Aparecido Donizeti de Souza e Dom Adilson Pedro Busin, deu início à edição 2021 da Assembleia Arquidiocesana -- evento que não pôde ser realizado em 2020 em função das restrições sanitárias impostas pela pandemia do novo coronavírus.


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A assessoria e palestra do padre Marcus Barbosa Guimarães foi o centro da programação da noite, e dele se ouviu a fundamentação e motivação necessária para a temática principal e única prioridade das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil (DGAE), vigentes no período de 2019 a 2023: as Comunidades Eclesiais Missionárias.

Uma reconfiguração da vida nos pede uma reconfiguração da pastoral

Padre Marcus iniciou sua assessoria (clique aqui para baixar a apresentação utilizada) sintetizando o que detalharia a seguir. Para ele, as Comunidades Eclesiais Missionárias são uma resposta ao contexto urbano da Igreja no Brasil -- e não estão “inventando a roda”. 

“Parece que estamos sempre começando algo novo, mas não é verdade. São João Paulo II, em discurso ao Celam (Conselho Episcopal Latinoamericano) já falava da necessidade de uma nova evangelização para responder aos novos desafios. Também Bento XIV, na Carta Apostólica “Porta Fidei” também nos alertava para a urgência de um novo jeito de evangelizar. Por fim, o Documento de Aparecida, de 2007, tornou-se um eixo articulador para a ação evangelizadora de nossa Igreja”, contextualizou o assessor.

No profético Documento de Aparecida, quinta edição da Conferência dos Bispos da América Latina e do Caribe, realizada em 2007 (as demais foram no Rio de Janeiro, em 1955; em Medellin, na Colômbia, em 1968; em Puebla, no México, em 1979; e em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992) há um diagnóstico que ainda nos vale para entender o atual momento que vivemos: estamos diante de uma mudança de época que nos leva a uma crise do sentido global da existência. Para o padre Marcus, a consequência disso é que as tradições e a fé já não se transmitem mais como em outras época, há uma perda da incidência dos valores do Evangelho. 

“Qual é o tratamento? Qual o remédio? Recomeçar a partir de Jesus Cristo. Apresentar ou reapresentar Jesus Cristo à humanidade. Jesus Cristo do lava-pés, Jesus Cristo do serviço dos Evangelhos”, apontou ele. “Presenciamos transformações estruturais profundas, que afeta tudo e afeta a todos, agravadas pela realidade da pandemia. Como a pandemia questionou as nossas certezas! Escancarou as nossas desigualdades, mostrou as nossas fragilidades, e quanto esta pandemia continua gritando por fraternidade.”

Segundo o padre Marcus, membro da diocese de Nova Iguaçu, onde foi pároco por nove anos da Catedral Santo Antônio de Jacutinga, há oito anos as DGAE vêm nos mostrando nossas urgências, que são centradas em recomeçar a partir de Jesus Cristo por meio de 5 prioridades: 

  • Estado permanente de missão
  • Iniciação à vida cristã
  • Animação bíblica da vida e da pastoral
  • Comunidade de comunidades
  • Serviço da vida plena para todos


Ao referenciar a Carta Apostólica "Porta Fidei", do papa Bento XIV, o assessor faz uma análise inapelável de nosso tempo:

“A fé não é mais, há tempos, um pressuposto óbvio de nossa vida diária. Jesus e a comunidade eclesial já não significam para muitos. Para muitos batizados, inclusive”, afirmou ele, que completou: “o encontro com Jesus não deve se dar apenas no campo intelectual, mas também e principalmente nos campos existenciais e experienciais.”

A animação bíblica como elemento fundamental

Procurando dar grande destaque à Palavra de Deus em meio à abordagem da temática principal, padre Marcus fez referência ao “Estudo 114 da CNBB - Animação Bíblica da Pastoral a partir das comunidades eclesiais missionárias” e ao seu trecho que diz o seguinte: “em nossos dias, torna-se indispensável estabelecer e fortalecer, em pessoas e comunidades, o vínculo entre a Palavra de Deus e a vida, tornando a ação pastoral cada vez mais alicerçada no contato fecundo com a Escritura Sagrada”.

Para o assessor, há uma conclusão possível que é repetir o que já nos diz o Estudo 114: “comunidades eclesiais missionárias e animação bíblica da pastoral se completam de modo irrenunciável (265).”


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A nova cristandade exige um novo modelo de paróquia

Nos desafios de pensar a vida da comunidade, há a convicção que territorialidade não é mais garantia de pertença, assegurou o assessor. 

“Quanta gente tem os pés em um lugar e o coração está em outro? Quantas residem durante a semana em um local e no final de semana está em outro?”, questionou o padre Marcus. “Enquanto o território tem a ver com limites geográficos e características socioculturais, o senso de pertença é estabelecimento de vínculos, é o onde a vida acontece, onde estão as raízes existenciais.”

Na sequência, o assessor tornou ainda mais objetiva sua provocação quanto às mudanças urgentes no modo de pensar as paróquias. Para ele, o modelo tradicional de paróquia é para dentro, centrípetas, predominantemente territoriais, ou às vezes só territoriais, onde há a prestação de serviços religiosos, fundadas em um modelo de cristandade que não existe mais. 

“O novo modelo, o qual somos convidados a estimular, sugere paróquias centrífugas, que têm um centro, sim, mas não um centro voltado para dentro, mas em saída”, explicou. “E há um centro, sim. Não há um abandono da sede paroquial. Permanece havendo um Conselho, equipes pastorais etc., mas é um centro que irradia. Sempre de portas abertas, onde se entra, e de onde se sai. No entorno, estão comunidades em rede, que criam vínculos entre si e não se desligam da paróquia para que não caiamos na tentação dos individualismos, de pessoas e até de comunidades.”

Para o subsecretário adjunto de pastoral da CNBB, são estas as principais características das Comunidades Eclesiais Missionárias: 

  • Pequenas, a ponto de gerar intimidade e partilha;
  • Articuladas, organizadas em rede e vinculadas à paróquia; 
  • Inseridas, atentas às realidades locais; 
  • Diversificadas, adaptadas às diferenças e aos diferentes espaços onde há vida, como em ruas, prédios, casas, universidades; 
  • E alicerçadas, porque não serão um grupo de amigos ou um clube, são Igreja, e por isso fundamentadas nos pilares pão, palavra, caridade e missão.


Na Arquidiocese de Porto Alegre, a Formação Discipular foi o processo que deu início, em 2019, às inúmeras iniciativas de Comunidades que já se reúnem nos moldes do que pedem as DGAE 2019-2023 (clique aqui para conhecer as experiências locais). Na lista abaixo, padre Marcus resumiu um método de implantação das novas comunidades:

  • Sem receitas rígidas.
  • Conhecendo a realidade e verificando onde existem vínculos.
  • Valendo-se de práticas missionárias de visitação para sedimentar.
  • Criando ministérios de animação/coordenação de comunidades.
  • Conselhos, assembleias, equipes ajudando a criar comunhão e participação.
  • Adotando roteiros para oração, reuniões e celebrações locais.
  • Fomentando atividades de animação e de articulação.


“E teremos problemas?”, questionou o assessor. “Claro que teremos obstáculos”, respondeu, enquanto listou alguns deles:

  • Costume secular: “alguns ainda ficarão centrados no ‘foi sempre assim’.”
  • Estruturas engessadas: “elas dificultam a renovação de lideranças”.
  • Sensação de abandono: “alguns dirão que o tradicional dá mais segurança.”
  • As paróquias trabalham muito: “sim, fazemos muito, mas será que fazemos bem?”
  • Ainda existe lugar para a pastoral de conservação? “Sem dúvida. O que for útil deve permanecer. Mas cuidado com a preguiça, com o comodismo.”


A bênção e incentivo de Dom Jaime

Ao final da sessão de perguntas e respostas, Dom Jaime tomou a palavra para o encerramento do encontro. Depois de agradecer a assessoria do padre Marcus e a presença e participação das inúmeras paróquias, conectadas pelo canal da Arquidiocese no Youtube (clique aqui para acessar a gravação do encontro), o arcebispo metropolitano afirmou que será preciso ousadia. E em tempos assim, segundo ele, é preciso discernimento.

“O discernimento exige ter presente o que está em questão -- e hoje nós abordamos de forma vigorosa o que está em questão --, exige que rezemos juntos, e depois que dialoguemos entre irmão e irmãos, buscando ser uma Igreja mais misericordiosa, samaritana e missionária neste pedaço de chão do Rio Grande do Sul”, orientou. “Que Deus abençoe e ilumine a ti, a tua comunidade, a tua família”, concluiu ele, dirigindo-se aos leigos e ao clero presente na primeira etapa da Assembleia Arquidiocesana.

Abaixo, leia os depoimentos que a Assessoria de Comunicação (Ascom) recebeu de leigos que participaram do encontro:

"A Assembleia proporcionou a nossa participação e pediu o nosso comprometimento na evangelização das comunidades missionárias. Achei muito claras e motivadoras as colocações do Pe. Marcus; saímos com uma vontade enorme de formar uma comunidade com os pais das crianças que preparamos para o Batismo. Anteriormente, formamos as comunidades com membros dos próprios movimentos; agora que estamos mais esclarecidos, com o “pé na missão”. O Espírito Santo está nos conduzindo e orientando."
Olavo da Silva e Adenildes Demétrio da Silva, da Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, em Charqueadas.

“Pessoalmente, eu constatei que deveria ter mais participação dos leigos. É um trabalho árduo que vai exigir muito esforço, estudo e caridade de cada um. No meu ver, as únicas barreiras que vamos encontrar é a disponibilidade das pessoas e o medo das coisas novas. Estou disponível para arregaçar as mangas e trabalhar. Amo trabalhar com a Bíblia. Conte comigo para o que der e vier.”
Vilma Garcez Dias, 72 anos, da Paróquia Nossa Senhora dos Anjos, de Gravataí

"Deixo aqui minha total satisfação em participar desse encontro. A direção da Obra Social reuniu-se para iniciar um trabalho missionário com as famílias que ali frequentam. A Assembleia sacudiu a Igreja da Arquidiocese de Porto Alegre e assim, nós, cristãos leigos, saímos da nossa zona de conforto. Tenho fé e coragem que seremos, sim, uma Igreja em saída". 
Eloy Lopes Ávila, da paróquia Santa Bárbara de Arroio dos Ratos, coordenadora da Obra Social Santa Bárbara

“Achei que a reunião foi objetiva e didática. É uma bênção estas orientações virem dos nossos bispos. Sabemos que existem muitos documentos que precisamos estudar, mas quando o pedido vem dos nossos bispos, têm um sabor diferente, é um olhar carinhoso e que nos dá um entusiasmo diferente.”
Karina Bihalva da Cunha, da Paróquia São Vicente de Paulo, de Cachoeirinha

“Achamos o primeiro dia da Assembleia Arquidiocesana de Pastoral bastante proveitoso. Por aqui, já havíamos iniciado o trabalho de comunidades missionárias, no formato proposto no ano de 2019. Infelizmente, tivemos encontros presenciais suspensos pela pandemia. A experiência de abrir a porta para acolher e poder ser presença na vida do outro com o objetivo de iniciar ou reiniciar a vida cristã, já que muitos tivemos algumas lacunas na caminhada, nos enriqueceu muito, sempre tendo como pilar a Palavra de Deus. Desejamos ardentemente que as nossas lideranças religiosas e leigas, contagiadas pelas palavras do Padre Marcus, nos conduzam novamente com coragem e alegria a dar passos firmes. Que visem o resgate das nossas comunidades já formadas e hoje adormecidas, e a formação de novas aqui e onde quer que ainda não se tenham constituído na nossa Arquidiocese. Igreja renovada é o que precisamos.”
Jane Salete Vencato Oliveira, catequista de Batismo da Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, de Charqueadas

“Tivemos a grande alegria de poder nos reunir para a Assembléia de Pastoral Arquidiocesana, um novo método muito criativo e interessante. O assessor Padre Marcos teve fala muito gratificante, inteligente e dinâmica, muito produtiva. Nesta semana começamos a nos organizar para formar uma Comunidade  Eclesial Missionária, na Obra Social Santa Bárbara de Arroio dos Ratos, onde faço parte da coordenação como vice-tesoureiro. Todos saíram da assembleia muito animados, fortaleceu a nossa saúde mental e espiritual.
Carlos Gabriel da Silva dos Santos, vocacionado

 


 



Autor:
Juliano Rigatti (Ascom)

Fonte:
Ascom

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