23/02/2022
A Arquidiocese de Porto Alegre integra o projeto Igrejas-Irmãs, criado no ano de 1972, pela CNBB, enviando sacerdotes para missão na região amazônica. Neste ano, junto com o sacerdote - padre Tiago Ávila Camargo - está o seminarista Darlan Schwaab. Ao completarem o primeiro mês no Estado do Pará ambos relataram suas primeiras impressões, desafios e surpresas na diocese de Xingu-Altamira.
Padre Tiago conta que chegou à cidade de Porto de Moz, onde irá exercer seu ministério na paróquia de São Braz, no dia 2 de fevereiro. “Para chegar na cidade, saímos de Altamira e fomos até Vitória do Xingu, cidade de onde saem as embarcações para as diferentes regiões. Comigo viajou o Pe. Warley Barbosa, da arquidiocese de Belo Horizonte, com quem trabalharei na paróquia. Após três horas de viagem pelas águas do rio Xingu, chegamos na hidroviária de Porto de Moz. Aí fomos muito bem acolhidos pelo atual pároco, Pe. Aderney Leal, e pela comunidade que se fez presente e nos acompanhou até a Igreja Matriz onde, com cantos e homenagem nos transmitiram as boas-vindas. Quando em Altamira, já tinha ouvido dizer que o povo portomozense é acolhedor. Isso pude confirmar desde a chegada”, conta o sacerdote.
O seminarista Darlan Schwaab, que concluiu em janeiro sua graduação em Teologia, foi nomeado reitor e formador do seminário propedêutico pelo bispo da diocese, Dom João Muniz. Ele confessou surpresa e gratidão com a decisão de Dom João. “Confesso que vim pensando e planejando diversas atividades relacionadas à catequese, formação, oração, estudos bíblicos, etc., mas sempre voltados para as comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas que esta Igreja particular atende e auxilia. Alguns dias depois, quando chegou o momento da conversa com Dom João Muniz, recebi a notícia de que fui designado para ser reitor e formador da etapa de Propedêutico no Seminário São João Maria Vianney, na cidade de Brasil Novo. Até esse instante, eu estava nomeado para acompanhar o padre Tiago Camargo na cidade de Porto de Moz, onde a realidade de comunidades indígenas e ribeirinhas é o cotidiano da paróquia. A novidade me fez tremer. Contudo, em obediência e total confiança no querer de Deus, assumi o apostolado que me foi confiado”, disse o seminarista.
O tamanho da Missão
Tanto o padre Tiago como o seminarista Darlan tiveram entre os desafios dos primeiros dias a notícia de teste positivo para Covid-19. Ambos relataram que receberam todo o apoio e depois de cumprirem a quarentena exigida pelo protocolo de saúde puderam retomar as atividades. “Tive todo suporte para superar os sintomas leves que me impediram de participar presencialmente do principal evento pastoral da Paróquia, a Semana Catequética. O jeito foi contar com o recurso virtual para acompanhar as formações oferecidas para as comunidades que vieram também do interior para participar e partilharam a temática sobre as Comunidades Eclesiais Missionárias, projeto de evangelização nas famílias”, relata o presbítero.
O seminarista Darlan também positivou para o Covid-19 e precisou aguardar o tempo de isolamento antes de se mudar para o seminário, que fica na cidade de Brasil Novo (PA). “Após um período de isolamento em função de ter pego covid, me mudei para o seminário para dar início a essa nova etapa da missão. Aqui em Brasil Novo encontrei a seguinte realidade: uma única paróquia para um vasto território, com mais de 40 capelas (algumas de difícil acesso em função das estradas e muita chuva) para apenas um padre atender. Tenho percebido, assim, que devo aplicar, a partir do seminário, o pedido do Papa Francisco de uma Igreja em saída. Por isso, junto aos seminaristas que aqui residem, começamos a nos colocar à disposição das pastorais que são riquíssimas em boas almas prontas para ajudar a Igreja. Conseguimos dar início a uma formação para novos coroinhas e acólitos. Como uma das funções que o bispo me confiou é ajudar na promoção vocacional, tenho rezado e planejado atividades que envolvam a juventude da cidade, trazendo-a para o seminário para que, juntos, possamos discernir os caminhos aos quais Deus nos chama”, afirma Darlan.
A paróquia de São Braz é composta por 75 comunidades, divididas em 10 setores. “A partir de março iniciaremos as visitas às comunidades do interior. Na primeira saída serão 25 dias, passando um dia em cada comunidade, navegando pelos rios da região – entre eles o Xingu, o Guajará, e o Amazonas –, para visitar os três primeiros setores, os mais distantes da sede: Uiui, Médio Guajará e Alto Guajará. A realidade encontrada aqui se difere da realidade de origem, no Rio Grande do Sul, em vários aspectos: linguístico, geográfico, culturais, sociais e eclesiais. A relação com o tempo e o espaço ganha outra dimensão. As distâncias, os meios de acesso às comunidades, o planejamento pastoral, o acompanhamento e assistência religiosa ainda precisam ser assimilados para poder oferecer o melhor que nos for possível”, finaliza o padre Tiago Camargo.
O Projeto Igrejas Irmãs foi criado pela CNBB em resposta ao apelo dos bispos da Amazônia, reunidos em Manaus no ano de 1972. A Arquidiocese de Porto Alegre aderiu ao projeto e, em 1973, abraçou a então Prelazia do Xingu, enviando três padres: padre Léo Schneider, que permaneceu por 12 anos, padre Oscar Führ, que faleceu de câncer no Xingu, em 2004, e foi sepultado "junto a seu povo no Brasil Novo", na Transamazônica, e o padre Alírio Bervian, que chegou a Altamira em 1973 e permanece lá até hoje. Padre João Carlos Andrade da Silveira, mais conhecido como padre Joca, permaneceu quatro anos em missão tendo retornado em janeiro deste ano para assumir como pároco nas paróquias Santo Antônio e Nossa Senhora de Fátima, em Canoas.