Discernimento

21/07/2022

“Democracia é o governo de poder público em público” (N. Bobbio). As coisas do poder público não podem não ser públicas. “Uma autêntica democracia só é possível num Estado de direito e sobre a base de uma reta concepção da pessoa humana. Aquela exige que se verifiquem as condições necessárias à promoção quer dos indivíduos através da educação e da formação nos verdadeiros ideais, quer da ‘subjetividade’ da sociedade, mediante a criação de estruturas de participação e corresponsabilidade” (CDSI, 406).

 

A participação livre e consciente nas atividades que tocam a vida social e política requer o exercício do discernimento.

 

A fé cristã, alicerçada na tradição judaica, ensina que o ser humano é chamado à liberdade. Por isso, ele não pode e não deve ser instrumentalizado por quaisquer estruturas meramente humanas.

 

Os cristãos inseridos nas coisas do mundo e da história, em diálogo com todas as pessoas de boa vontade, empenham-se por discernir quais as melhores opções para promover o bem comum.

 

Buscar perceber que forças agem na sociedade; perceber quais podem nos conduzir para um lado ou para o outro, para a felicidade ou infelicidade, para a tirania ou para a democracia, para a vida ou para a morte é o difícil trabalho do ser humano. 

 

Discernir e decidir são arte. Exige empenho e educação, instinto e trabalho, natureza e cultura, razão e fé. Urge resgatar a importância e o lugar na vida social das ciências do espírito! Sem elas a alma humana corre o risco de se perder no labirinto dos próprios artifícios.

 

A dimensão do espírito humano necessita de resgate e promoção. Há quem a considere coisa somente de ‘competentes’. Não faltam charlatões de plantão! Mas há também mentes lúcidas!

 

Discernir significa recompor a diversidade na harmonia. Daí a necessidade de considerar o lugar do espírito – aspecto determinante da identidade humana.

 

A obra do discernimento permite cultivar as justas distinções. Distinguir é vida! O contrário da distinção é a confusão. Onde há confusão não há clareza, objetividade, distinção. A distinção é condição para a existência. O indistinto confunde e destrói!

 

 



Autor:
Dom Jaime Spengler

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