12/12/2022
No início desta reflexão gostaria de recordar que a pandemia do Covid-19 despertou, por algum tempo, a consciência de sermos uma comunidade mundial que viaja no mesmo barco, onde o mal de um prejudica a todos. Sabe-se que ninguém se salva sozinho, que só é possível salvar-se juntos. Por isso, “a tempestade” desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades.
Sabemos que ficamos muito expostos e caiu o disfarce na ‘arte’ com que mascaramos o nosso “eu” sempre preocupado com a própria imagem; e ficou descoberto, uma vez mais, esta abençoada pertença comum a que podemos subtrair; a pertença como irmãos.
Ainda buscamos o resultado rápido e seguro, e encontramo-nos oprimidos pela impaciência e a ansiedade. Prisioneiros da virtualidade, perdemos o gosto e o sabor da realidade. A tribulação, a incerteza, o medo e a consciência dos próprios limites, que a pandemia despertou, fazem ressoar o apelo a repensar com seriedade os nossos estilos de vida, as nossas relações, a organização das nossas sociedades e sobre tudo o sentido de nossa existência.
Acredito que é difícil pensar que este desastre mundial não tenha a ver com a nossa maneira de encarar a realidade, pretendendo sermos senhores absolutos da própria vida e de tudo o que existe.
O Papa Francisco nos disse em certa ocasião que: “Se não conseguirmos recuperar a paixão compartilhada por uma comunidade de pertença que gere esperança e solidariedade, à qual saibamos destinar tempo, esforço e bens, desabará ruinosamente a ilusão global que nos engana e deixará muitos à mercê da náusea e do vazio”.
Precisamos recuperar a confiança e a corresponsabilidade nas atitudes e considerações com o próximo, pois a recente pandemia nos deu grandes lições em valorizar companheiros e companheiras de viagem existencial que, no medo, reagiram dando a própria vida. Creio que somos capazes de reconhecer com nossas vidas tecidas e sustentadas por pessoas comuns que, sem dúvida, escreveram os acontecimentos decisivos da nossa história compartilhada: médicos, enfermeiros, enfermeiras, auxiliares técnicos, farmacêuticos, funcionários de supermercados, pessoal de limpeza e higienização, cuidadores e cuidadoras, transportadores, homens e mulheres que serviram para fornecer serviços essenciais e de segurança, voluntários, sacerdotes, religiosas, famílias solidárias, colaboradores; eles compreenderam que ninguém se salva sozinho.
Convido a todos abraçarmos a esperança ousada que sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte, para se abrirem aos grandes ideais que com certeza tornam a vida leve e digna em sua beleza original.
Contudo, acredito que “a perseverança nos leva a virtude comprovada, e a virtude comprovada desabrocha na esperança” (Romanos 5,4). Em tudo isso há uma certeza garantida: “a esperança não decepciona” (Romanos 5,5).
Vivamos entre nós este tempo de espera e de esperança que está e vai acontecendo entre nós, porque somos todos Irmãos.