05/03/2023
Na celebração do Segundo Domingo da Quaresma, Jesus se apresenta transfigurado aos Discípulos. Fortalece, assim, a fé deles e indica que após a Cruz haverá a ressurreição. A voz do pai, vinda da nuvem, manda escutar a Palavra do Filho amado. Revelar-se aos Discípulos, revelar-se ao outro é um ato de confiança. Quando alguém se revela a outra pessoa lhe é dado o poder de intervir, de partilhar a mesma vida, como acontece na amizade autêntica.
Para nós cristãos, a oração é um espaço de nos mostrar, de partilhar, a nossa vida com Deus. A oração é uma das práticas que caracteriza a vida dos fiéis, de modo especial neste tempo da Quaresma. Ela é um fenômeno primário da vida religiosa que praticamos. É o seu coração, seu núcleo, a tal ponto que distingue o fiel do não fiel. Orar é um ato não somente de uma só faculdade ou função humana, mas de toda a pessoa que se dirige para um absoluto, como uma realidade presente e potencial.
Entre os diversos significados, a oração pode ser primeiramente as fórmulas, os ritos, silenciosos ou verbalizados, que distinguem um grupo social que se confessa religioso. Em um nível mais profundo, rezar, orar, indica a busca de um cultivo de intimidade , de compromisso interpessoal do ser humano com o transcendente, com Deus.
A oração transcendente, escapa, aos controles dos métodos humanos e da ciência humana. Só se pode falar de oração e a partir da oração como orantes. Orar, rezar, é abrir-se a um mistério fascinante e tremendo ao mesmo tempo. Rezar é tomar conhecimento do maravilhoso, reconhecer o inaudito, aprender o censo do mistério que anima todos os seres. A oração que anima todos os seres. A oração é resposta humana, humilde, a surpresa inconcebível de viver.
Segundo a tradição bíblica, o ser humano não pode tornar Deus visível para ele, mas ele, o ser humano, pode se empenhar por tornar-se visível para Ele, para Deus. Para o fiel, a oração permite entrar no domínio de um outro. Ela muda o centro da vida, da autossuficiência, para se entregar totalmente nas mãos daquele que é a vida. Ela capacita o fiel a ver o mundo sob a luz do que é santo, tornando evidente as contradições e injustiças da sociedade.
Precisamos reaprender a rezar, isto é, não se restringir a palavras, ritos, fórmulas, gestos, mas, acima de tudo, aprender a bem nos dispor para bem acolher o espírito de Deus e o seu santo modo de operar. Acolher a surpresa de sua visita, de sua presença e a doação. O empenho no exercício da oração requer que sejamos uno em tudo, que rezemos com tal engajamento, como quando estamos trabalhando, e que trabalhemos com tal reverência e devoção como quando rezamos.
São Paulo sintetizou isso em orai, rezar, sem cessar. Viver a Quaresma implica aprofundar a nossa intimidade com Cristo e nos deixar transformar por meio leitura orante da Palavra, da oração, da meditação, dos exercícios característicos, da participação na vida sacramental da comunidade de fé. Possa esse tempo ser verdadeiramente tempo propício para crescermos na santidade.