QUARESMA E JEJUM

27/03/2023

A Quaresma é tempo de abertura para o mistério da fragilidade, da dor e da morte, da Cruz, do Crucificado. É oportunidade para um caminho mais determinado de identificação com Cristo. É um período durante o qual somos convidados a nos abrir, abster-nos, esvaziar-nos por meio da prática do jejum.

 

O jejum é uma prática ascética e penitencial, e segundo a tradição cristã contribui para nos fazer adquirir o domínio sobre nossos instintos e a liberdade de coração.

 

Muito mais que uma privação, o jejum é uma prática, uma tentativa de deixar-nos atingir pela graça da liberdade com que Cristo nos presenteou, abrindo o nosso ser para a receptividade da vida nova, da liberdade.

 

“Há três coisas pelas quais se confirma a fé, se fortalece a devoção e se mantém a virtude: a oração, o jejum e a misericórdia. O que pede a oração, alcança-o o jejum e recebe-o a misericórdia. Oração, jejum e misericórdia: três coisas que são uma só e se vivificam mutuamente. O jejum é a alma da oração, e a misericórdia é a vida do jejum. Ninguém tente dividi-las, porque são inseparáveis. Quem pratica uma das três, ou não as pratica todas simultaneamente, na realidade não pratica nenhuma delas.

 

Portanto, quem ora, jejue; e quem jejua, pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações atenda as súplicas de quem lhe pede, pois aquele que não fecha os seus ouvidos à súplicas alheias abre os ouvidos de Deus às sua próprias súplicas. Quem jejua entenda bem o que é o jejum; seja sensível à fome dos outros, se quer que Deus seja sensível à sua; seja misericordioso, se espera alcançar misericórdia; compadeça-se, se pede compaixão; dê generosamente, se pretende receber. Muito mal suplica quem nega aos outros o que pede para si...” (Pedro Crisólogo, +450).

 

A Igreja do Brasil, nessa quaresma, à luz da Palavra de Deus e da tradição, por meio da Campanha da Fraternidade, deseja iluminar a dura realidade dos que não possuem o necessário para viver com dignidade: aqueles que se sentem privados do alimento necessário para si e para os seus. É certamente uma realidade cruel e escandalosa que atinge a muitos. Alguns possuem de forma desmesurada, outros possuem pouco ou nada...

 

A prática do jejum – exercício quaresmal – nos ajuda a recordar que podemos viver de forma sóbria, e assim fazendo nos é oferecida oportunidade privilegiada para o exercício da misericórdia, atentos à ordem de Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).



Autor:
Dom Jaime Spengler

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