04/03/2021
Desde março de 2020, parece o entardecer, parece cair a noite sobre nós. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e dum vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos. Fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda que atinge a todos, sem distinções. Estamos no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários. Sim, importantes, pois toda vida humana é importante! Necessários, pois para afrontar as peripécias do tempo, é decisivo remar juntos (cf. Papa Francisco, 27.03.2020).
O tempo quaresmal que estamos vivendo convida-nos à reflexão e à revisão de vida. A perplexidade que caracteriza o tempo presente à causa da crise sanitária, com seus desdobramentos, exige lucidez e coragem. Coragem para acolher as orientações que as autoridades sanitárias propõem. Lucidez para reconhecer e compreender a necessidade de engajamento de todos para a superação dos desafios que o novo coronavírus nos impõe.
Para fazer frente às adversidades que se sobrepõem, urge determinação das melhores forças da nação para a construção e implementação de um “Pacto pela Vida e pelo Brasil”, pois a vida e saúde dos cidadãos é seu patrimônio maior.
A determinação de critérios para superação da crise não pode estar ancorada em princípios meramente econômicos. A dimensão econômica da vida social, com suas normas, é certamente importante. Contudo, é necessário se perguntar se o atual sistema que rege as leis do mercado promove equanimidade ou exclusões e desigualdades.
Não faltam indicações de que o atual sistema econômico é perverso. Por isso, junto com a disponibilidade de vacinas para todos, “é necessário corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito ao meio ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado da família, a equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das futuras gerações” (Papa Francisco).